domingo, 2 de janeiro de 2011

Lima Barreto, os militares e o positivismo

"-Mas vocês só falam em patriotismo? - fez Olga
 -Decerto. Se eles fossem patriotas não estariam a despejar balas para a cidade, a entorpecer e desmoralizar a ação da autoridade constituída.
 -Deviam continuar a presenciar as prisões , as deportações, os fuzilamentos, toda série de violências que se vêm comentendo, aqui e no Sul?
 -Você, no fundo, é uma revoltosa- disse o doutor, fechando a discussão."

Lima Barreto, em seu livro "Triste fim de Policarpo Quaresma" , expõe uma visão pejorativa bastante definida dos militares e da ideologia instituída pelo governo do Marechal Floriano. Costuma caracterizá-los pelo positivismo, "ramo" do conhecimento humano que, talvez o inaugure enquanto ciência.
O positivismo é marcado pela imersão nos métodos experimentalistas, ou seja, só admite conhecimento ou teoria embasados em experiências, em averiguações, de modo que seja assim científico. O conhecimento, portanto, é possível enquanto uma projeção no pensamento do mundo tal como ele é "objetivamente". Isto levaria a uma forte relação de causalidade nas explicações dos fenômenos sociais.
Entendido isto podemos compreender melhor o discurso dos militares. Sendo eles os defensores dos interesses da Pátria, da ordem e do progresso, seus inimigos não podem ser senão, retrógrados, espiões, aliados dos estrangeiros portugueses, e mais a frente, russos. Não cabe nesta interpretação a possibilidade de outros atores sociais defenderem outro modelo de nação , balizada em outros alicerces. Não há contradição ou conflito de interesses na lógica positivista, muito menos dominação de classe.
Assim, os militares inspirados nas posições liberais norte-americanas deram rumo à construção da nação brasileira. A eliminação do trabalho escravo e a adoção do trabalho assalariado, o modelo econômico, o modelo político e o modelo cultural. Eram estes os pilares da Pátria Brasil, e aquele que viesse a reclamar a situação dos negros abolidos, o latifúndio improdutivo ou o resgate da nossa cultura indígena estaria na contramão. Escondidos atrás disto estariam os interesses hegemônicos das nossas elites oligárquicas e do imperialismo. Explica-se através disso a tara anti-comunista dos mesmos militares à época do Golpe de 64. "Brasil, ame-o ou deixe-o" expressa a mesma idéia.

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