quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Nação. Busca Incessante ou Comunidade Imaginada?

Benedict Anderson, em seu livro " Comunidades Imaginadas", tece uma crítica às interpretações da questão da nação e do nacionalismo que os enxergam como produtos da " invenção" de determinados atores sociais. Para ele, a "nação" é uma "comunidade política imaginada" carregada de soberania e " intrinsecamente limitada". A qualificando como a comunidade imaginada moderna, Anderson se propõe a uma historização dos tipos de comunidades anteriores, que para ele são todas imaginadas e , que por isso, não se diferenciariam pelo contraponto " falsidade/autenticidade" como nas interpretações da " invenção" . Seriam aquelas: a "comunidade religiosa" e o "reino dinástico".
Estas comunidades extrapolavam as noções de territorialidade e temporalidade. No caso das comunidades religiosas, os símbolos dariam sentido a uma linguagem sagrada e a um "poder supraterreno", de forma que povos que utilizariam até mesmo idiomas diferentes se veriam na mesma comunidade católica, muçulmana, judaica, etc.
Já o nacionalismo só é possível com o estabelecimento daquelas noções. Para ele, a nação é " a idéia de um organismo sociológico atravessando cronologicamente um tempo vazio e homogêneo" , ou seja, é um ente não-historicizado no discurso do nacionalismo, e, que neste sentido pode contruir a memória de uma nação ainda que em tempos onde não houvese identidade nacional.
Assim, a ascenção desta comunidade imaginada se dá com a queda do latim como língua oficial e com o crescimento do mercado editorial, que foi responsável pela massificação de publicações em línguas distintas. Estaria aí o embrião para um discurso de memória nacional, que respaldado no estabelecimento dos novos idiomas oficiais viria a os identificar com seus povos detentores. Esta análise, por mais que o autor não adentre estas matas embrenhadas, confere ao nacionalismo europeu um caráter burguês e capitalista.
Desta forma, é possível dizer que o discurso do nacionalismo e a construção dos Estados Nacionais é, em Anderson, eextremamente datado, por mais que ele permaneça vigente até hoje. Assim, os discursos nacionalistas contemporâneos nada mais são que um resgate deste período de estabelecimento da comunidade imaginada.
É importante colocar uma reflexão, no entanto. Por mais que se possa extrair isto do livro, o autor não entra na questão de classe abertamente, que na minha visão é evidente na construção de uma visão nacionalista. Talvez o faça deliberadamente para evitar a idéia de "invenção", o fato é que a investigação ao qual me proponho e que em muito se reproduz nos artigos deste blog, é a possibilidade da construção da nação em outro prisma, um discurso nacionalista essencialmente anti-imperialista e que viabilize a afirmação da cultura dos setores mais populares da sociedade. Será este o debate? Ou deveríamos nos debruçar na busca de nova comunidade imaginada? Fica a questão para a reflexão do leitor.

4 comentários:

  1. "Quem inventou as fronteiras não conhecia as aves nem os ventos".

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Allysson, você é um gênio... heheh... tava meio sem saber o que postar. Escrevi um texto sobre a Constituição. Bom, nada brilhante como um trabalho de sociólogo mas... abraços.

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  4. Excelente artigo!! Acredito que essa abordagem do nacionalismo enquanto "comunidade imaginada" dá enfase á criação de um imaginário social atravéz do discurso político, cabe ressaltar, que são instituições políticas e culturais que permtem a produção e a difusão dos discursos que sedimentam a construção dos imaginários nacionais...
    Lucas Santos.

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