Por Thiago Machado
A China vem remodelando o cenário do comercio mundial, como ofertantes de produtos industrializados, extremamente competitivos, e demandando commodities de forma intensa. Essa relação tem alterado a cadeia produtiva mundial, ao gerar pressões competitivas nas indústrias de todo mundo fazendo com que, aquelas que não apresentam um grau de competitividade suficientemente bom, serem diminuídas ou eliminadas. Alem de demandar produtos baseados em recursos naturais.
Estes fatos decorrem de sua política deliberada de industrialização, desde o final da década de 70, com as reformas introduzidas por Deng Xiao Ping. Desde então, a China tem traçado uma política deliberada de abertura econômica com assimilação tecnológica mexendo na curva de aprendizado da população. Uma estratégia totalmente distinta da adotada pela América Latina de simples liberalização econômica.
Com esse modelo, a China favorece a atração de empresas transnacionais, atrás de sua mão de obra barata, e de seu grande mercado consumidor, praticando join-ventures com empresas nacionais, sendo o papel das empresas multinacionais, muito maior do ponto de vista de melhorar a curva de aprendizado chinesa, do que aumentar a produção ou dependência no sentido do capital financeiro internacional.
Nesse sentido, este artigo se coloca na posição oposta a de muitos economistas, que defendem que a China possui uma forte dependência do capital internacional. Contudo não é isso que ocorre, pois apesar do papel estratégico das empresas multinacionais (devido ao processo de assimilação tecnológica), elas contribuem com apenas 5% da formação bruta de Capital do país e com 30% da produção de manufaturados, dos quais 60% são destinados para o mercado interno.
Ao longo de sua trajetória de aprendizado, ela conquistou a participação de 93% de produtos manufaturados nas exportações, enquanto que sua composição para as exportações da América Latina é de 98% de produtos manufaturados, sendo 68% da categoria de alta e média tecnologia e 20% na de baixa tecnologia.
Essas características trazem fortes implicações para o comercio mundial, na análise de Palma (2004, P. 407), as economias asiáticas passaram por alguns problemas graças ao seu próprio sucesso na década de 90, culminando na crise de 1997. De acordo com (PALMA, 2004), a queda na taxa de lucro das empresas do leste asiático, levou a um aumento dos investimentos, (financiado pela poupança externa, via superávits na conta capital e financeira), a fim de recuperar sua receita. Contudo, alguns dos produtos de maior peso em sua pauta de exportação, particularmente eletrônicos, começaram a sofrer excesso de oferta e preços novamente em queda. Essa tendência competitiva, apesar de apresentar outros elementos se mantém até os dias de hoje, gerando vetores deflacionários nos preços dos bens manufaturados.
Outra questão importante que reflete o movimento dos preços internacionais é o explosivo crescimento da demanda chinesa por commodities, graças ao seu forte desenvolvimento econômico. A demanda por estes produtos teve um crescimento médio de 45% ao ano de 2000 a 2005, que declina para 18% entre 2005 a 2008 na América latina. Para o Brasil, as exportações de produtos básicos com destino a China cresceram em média, em relação ao primeiro período, 49,75% ao ano e no período de 2006 a 2009 o crescimento foi de 35,73% em média. De 2000 a 2009 as exportações brasileiras para os BRIC, cresceram 12,29 em termos reais[1] (a China responde por mais 80% do total do valor deste comercio), em contrapartida as exportações para o mundo todo, cresceram 2,95 vezes, também em termos reais.
Portanto, a alta competitividade do leste asiático em produtos industrializados, com baixos preços, associado com a forte demanda por bens básicos, expressa a melhora nos termos de troca a partir de meados de 2003 das exportações brasileiras. No entanto, será essa demanda sustentável? Vejamos algumas das características que a fazem demandar tais mercadorias:
A forte demanda chinesa por commodities pode ser atribuída a sua elevada taxa de investimento que chegou em 2006 a 42,8% do PIB, sendo que a construção civil representa 26% do PIB, ou seja, 60,75% do total, se comparar com a composição mundial que é de 55,09% (PUGA; BORÇA; NASCIMENTO; 2009, P. 2) verifica-se que lá é mais elevada, e alem do mais esta em rápida expansão, aumentando a demanda de insumos para a construção civil, elevando ainda mais o preço e a elasticidade da demanda das commodities.
Mas, apesar da China apresentar um robusto crescimento, seu PIB per capita ainda é extremamente baixo, de acordo com o Banco Mundial, seu PIB per capita em paridade de poder de compra de 2008, é de US$ 5.514,6, o do Brasil que ainda esta longe de ser um país desenvolvido, é de US$ 9.517,1, mais de 70% superior ao da China.
Retomando ao conceito de Schumpeter visto no capitulo 1.1, onde fatores dinâmicos em um determinado país podem não ser em outro. O baixo desenvolvimento Chinês possibilita uma expansão do consumo de produtos, que já possuem sua demanda razoavelmente bem atendida, em países mais desenvolvidos. Pois, no seu caso, os bens e serviços que fogem do fluxo circular, são mercadorias com um relativo “atraso” se compara a outros países do mundo. Desta forma, a atual relação que têm sustentado essa dinâmica de preços, e da elasticidade da demanda das commodities, parece ser um tanto quanto improvável futuramente. Pois os dados macroeconômicos, que apontam as tendências de longo prazo dizem que esse tipo de produto apresenta características de inelasticidade da demanda e deterioração dos termos de troca, conforme foi visto no capítulo um, e os dados apresentados um pouco acima, também apontam para um arrefecimento do crescimento das exportações de produtos básicos, apontando para uma mudança na tendência de preços, já que, sua segunda derivada é negativa, ou seja, o seu crescimento é cada vez menor. Portanto é concebível, e levantado a hipótese, de que o fenômeno China, não irá mudar radicalmente a dinâmica de preços, e da elasticidade da demanda de longo prazo dos bens básicos, que tem sido apresentado (pelo menos o primeiro quesito) a mais de um século (desde a análise de Raul Prebisch, 2000).
É importante fazer tal ressalva, já que alguns economistas como (SANTISO, BLAZQUEZ-LIDOY E RODRIGUES, 2006) defendem que os países latino-americanos, podem se tornar menos vulneráveis, do ponto de vista externo, devido ao efeito China. Formando certas perspectivas equivocadas, quanto à orientação da política macroeconômica nacional.
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