sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O Governo e o Brasil do século XXI

A publicação aqui no Sinal Preto dos dois artigos anteriores tem um propósito que é de ilustrar e embasar o balanço a ser feito das condições em que chegamos no Brasil do século XXI e os desafios que há pela frente na busca de uma nação com a cara dos trabalhadores e do povo.
O primeiro dá um panorama da luta do movimento sindical e o segundo mapeia o Brasil na perspectiva dos comunistas. Em ambos, os receios e dúvidas quanto ao que esperar de Dilma, e vale frisar que ambos compõem a grande base popular do governo.
Nestes quase dois meses de blog, tratamos muito da trajetória de nosso país e das encruzilhadas pelas quais passaram a nossa sociedade, para alguns, a nossa nação. Desde nosso amigo Quaresma, a vimos ser moldada sob todo patrimônio político-filosófico do liberalismo, que também foi muito combatido, ora substituído pelo Estado forte e também aprisionador dos movimentos populares no varguismo, ora ganhando força novamente, e assim foi construído nosso Estado Nacional e junto com ele o nosso capitalismo.
Hoje, por incrível que pareça, o Brasil consegue combinar os dois, com um Estado relativamente forte e promotor de avanços sociais, porém com um Banco Central autônomo, com uma mídia monopolista, com fortes poderes oligárquicos rurais, com também grande monopólio da terra ( o que faria nosso amigo Major Quaresma ter um fim ainda mais triste, se pudesse prever seu país cem anos depois). Isto sem falar nos aspectos estritamente políticos, totalmente fundamentado nos valores da democracia liberal, como a representação constituída pelo sufrágio universal, a individualização da sociedade, tudo isto agravado pela não-construção de uma identidade cultural nacional, que faz nosso povo se sentir sem lugar na História.
E que parte tem o PT e o atual campo político do governo nesta História? Esta é a pergunta que se fazem os movimentos sociais neste início de Governo Dilma. Sem dúvida, é uma resposta que nos exige grande sabedoria dialética!
Nestes anos vimos o nosso país crescer enormemente, atrair investimos ao mesmo tempo que desenvolver o seu próprio mercado interno, produzir tecnologia, investir em programas que contemplem a defesa nacional, expandir a Universidade pública, selar grandes acordos internacionais, combater a pobreza, conquistar a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Demos passos que em cem anos de República não haviam sido dados. Nas descrições de Benedict Anderson, demos grandes passos na construção e invenção de nossa nação. E é sob esta construção política moderna que o campo do Governo Lula construiu sua base social, o nacionalismo. O Brasil começou a experimentar esta sensação de ser nacionalista. No entanto, a reforma agrária não anda, assim como outras reformas propagandeadas por José Reinaldo, o salário mínimo aumenta conforme a vontade do patrão e a jornada de trabalho não reduz.
Assim, se a nação é algo datado e essencialmente burguês como parece dizer Anderson, a nação brasileira de Lula pode nos levar a apenas um capitalismo forte, como tantos outros por aí. Digo "pode", porque o que este governo tem de diferente dos outros é carregar consigo as expectativas de nosso povo e lhe levantar a auto-estima. E estas longínquas expectativas de libertação, de descolonização, hoje parecem ganhar concretude.
Falta agora estes populares se libertarem dos valores liberais e se entenderem como sujeito político. Sujeito político que tem cultura, história e que é o único responsável por sua própria libertação, como nos atenta o camarada Zé Reinaldo, do PCdoB. Só assim construiremos a República do Major Quaresma, e não a nação de Benedict Anderson. Um povo que seja comandado por Silvas, Souzas, Ferreiras, Pereiras, e nao por Sarney`s, ACM`s, Maia`s, Marinho`s, Mendes`, etc.

4 comentários:

  1. To comentando só para registrar o diálogo entre os textos (http://dilemadissonante.blogspot.com/2011/02/nacionalismo-e-identidade-nacional.html)
    Claro que o companheiro allysson tem uma veia mais pragmática, num bom sentido, que eu tão habituado às sutilezas do pensamento. Isto tudo é de somenos o que importa é o dignóstico, corroborado pelo nosso partido, acerca da importancia da identidade nacional numa frente democrática e popular que se aproprie de sua história e faça as reformas estruturais que nos são tão necessárias.

    Forte abraço

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  2. Olha, não quis chamá-lo de zé riela, antes diria que eu sou um diletante. Só o que quis dizer é que o companheiro está mais antenado às questões práticas da vida política que eu, inclusive pq faz tempo que não milito.

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  3. A sua é uma visão, mas não é a única constatação possível. A história não se repete...etc. etc. O estado forte Varguista é apenas uma faceta do Varguismo integral, a mais recorrente e visível, mas há outras facetas contraditórias antes e depois do Estado Novo.

    Há que se considerar a conjuntura internacional, o interesses geopolíticos em jogo no pré segunda Guerra Mundial (inclusive a crise econômica da época).

    Logo esta avaliação sobre o governo Lula, esta eventual combinação virtuosa entre dois modelos contraditórios, pode ser apenas mais do mesmo. Nenhum avanço, é o que pode ser. O que se considerarmos o grande espaço de tempo que separa as duas experiências, nada mais é um retardo, um atraso mascarado de evolução.

    Eu por exemplo acho que a única diferença entre os dois‘estados Novos’ (o do Vargas e o do Lula)é a conjuntura econômica muito mais favorável desta última vez.

    Há que se relativizar também esta aparente eficiencia da gestão da coisa pública desta era Lula, esta suposta ‘extraordinária eficiência governamental’ que, a cada dia que passa se mostra muito mais fruto da propaganda do que eficiência real.

    Afinal, esta aliança entre o atraso político e econômico mais absoluto, as oligarquias todas ainda aboletadas no mesmo poder de sempre, e o esquerdismo mais enfático e retórico de José Dirceu & Cia a nos prometer um capitalismo dos sonhos, não poderia ser verdade, a não ser que tudo que aprendemos sobre ética e poder não seja mais do que deslavadas mentiras.

    Posso até estar errado, mas acho que estamos vivendo uma ficção política com mais riscos potenciais para a nossa democracia do que foi a era Vargas.

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  4. Pode ser. Mas há o perigo de esta preocupação de superar este paradigma nos levar aos valores liberais.
    Tenho a impressão de que esta é a luta política da República Brasileira, o liberalismo contra o varguismo. E, se ao mesmo tempo que a década de 90 foi o grande desastre de nossa História com a venda de nossos patrimônios e o quase-sepultamento dos movimentos sociais, no Governo Lula retornamos ao Estado investidor e na esfera do trabalho à defesa apaixonada da CLT, ainda que esta fosse chamada de "AI-5 do trabalhador" por Lula quando sindicalista.
    Óbvio que precisamos avançar, porque diferente de outras leituras, esta é para mim uma polêmica de gestão do capitalismo, mas não há como reconhecer que para a trajetória que ia vivendo o Brasil, o Governo deu o passo importante do resgate do Estado.

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