O documentário "Zeitgeist" é um vídeo merecedor de ser assistido. Faz importante denúncia do imperialismo e todo o seu aparato alienante. A religião, a mídia, e os governos são desmascarados como donos da verdade, o que lhe confere um caráter contra-hegemônico.
No entanto, a hipótese do filme é notadamente idealista, marcada por alto teor conspiratório. O filme traça a história do mundo ocidental protagonizada por pequenos grupos, por aqueles que "estão nos bastidores". Estes têm um plano para o mundo e se utilizam de "mentiras" para manipular o povo e manter seu poder. Assim o é no episódio de 11 de Setembro, na Guerra do Vietnã e na Segunda Guerra ou até mesmo na existência de Jesus Cristo.
Ao tratar do personagem bíblico, Zeitgeist descreve como existe uma racionalidade nas crenças religiosas e como existem equivalentes a Jesus, Moisés e eventos da Bíblia em outras culturas. Isso os leva a péssima conclusão de que o cristianismo foi algo inventado pelas elites romanas como uma forma de manobrar o povo. Ora, sabemos da relação intrínseca entre Estado e religião na era medieval, mas é de um reducionismo barato dizer que uma moral milenar que rege a vida de tantos no mundo tenha sido criada em algum gabinete. Um trabalho de investigação de como estas diferentes culturas se relacionaram e originaram mitos semelhantes seria muito mais interessante e prudente.
Quando o tema são as guerras, tudo é culpa da família Rockfeller e do Federal Reserve. É justo considerar como é didática a forma de explicar a relação entre poder econômico e poder político do documentário. Neste caso é ainda mais interessante pelo fato de que o Federal Reserve é um Banco Central privado e garante o monopólio através do discurso da livre concorrência. No entanto, quando o documentário trata do desenvolvimento do capital o faz apenas no aspecto financeiro. A classe trabalhadora só aparece para ser a devedora nas grandes crises promovidas pela taxação do papel-moeda, que é feita pelo banco central. Ainda quando trata da política de guerra, Zeitgeist só fala da emissão de dinheiro, ignorando a produção armamentícia.
No geral, trata-se de uma oposição entre governantes e governados, e não se apresenta uma solução estrutural, o que pode levar a uma visão anarquista da política. Para mim, a solução não está escrita em "Imagine", "Revolution" ou Jimi Hendrix, como ele chega a apontar. Mas que a vida social não seja movida pelos interesses do mercado ou pelas tendências do capital, mas por mobilização popular, e isto só é possível com o poder dos trabalhadores.
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