O artigo "Nações. Busca Incessante ou Comunidade Imaginada?" publicado anteriormente propunha um diálogo com o livro "Comunidades Imaginadas" de Benedict Anderson, em especial com os capítulos "Raízes Culturais" e "Origens da Consciência Nacional". Seguimos aqui esta série dissecando o autor e a interessante perspectiva acerca do que chamamos de "Nação", agora com os capítulos "Pioneiros Crioulos" e "Imperialismo e nacionalismo oficiais".
A fim de entender o discurso nacionalista feito pelos setores da esquerda e pelas classes dominadas, o leitor poderia sair decepcionado destes capítulos. Apenas se não desse atenção para um problema levantado pelo autor mas que ele mesmo não dedica muita atenção.
Em "Pioneiros Crioulos", o autor entende o nacionalismo desenvolvido na América como inovador, haja vista que este discurso ainda não havia se desenvolvido plenamente no Velho Continente. Para ele, antes do surgimento dos "déspotas esclarecidos" europeus. O caráter fragmentado da admnistração imperial espanhola teria conduzido os crioulos (integrates da elite colonial descendentes de espanhóis nascidos na América) a desenvolver o discurso nacionalista antes mesmo do que houve na Europa. Os privilégios dos legítimos espanhóis frente aos crioulos os levariam a estimular a consciência nacional no continente.
Curiosamente, o Império Espanhol, apesar de admitir em todo o seu território apenas um idioma, não haveria criado uma consciência nacional em todo o território. A condição política fragmentada da colônia fez surgir diversos Estados Nacionais , movimento que teria ainda um caráter elitista, excluindo índios e escravos africanos. Benedict Anderson afirma que este aspecto teria sido um impecilho ainda para Simon Bolívar.
Claramente, Anderson se reaproxima da idéia de "invenção da nação" que ele combate no início do livro ao caracterizar o surgimento da comunidade imaginada nação. Não sendo o idioma um aspecto fundamental para a consolidação das identidades nacionais, nem havendo uma comunidade religiosa que se amparasse num idioma sacralizado e portanto, não havendo forte influência de um capitalismo editorial no discurso nacionalista, o autor opta exclusivamente pelo aspecto político para entender as nações americanas. Os Crioulos, fortalecidos enquanto ator político, construiram o discurso nacionalista a fim de legitimar seu poder enquanto classe social. Assim, os aspectos culturais americanos são postos de lado, e nem sequer há uma investigação da possibilidade do discurso de Bolívar e a base social que este pensamento representava.
Esta análise nos deixa duas possibilidades: ou o fato de determinado território com autoridade política estabelecida ser dominado por um Império em si estimula o discurso nacionalista pelos dominados; ou o nacionalismo americano carrega o legado cultural europeu. Vale destacar que Anderson nega esta perspectiva, apesar de esta ser a mais possível. A primeira, no entanto, nos levaria a um determinismo histórico.
Mas voltando a vaca fria, ao narrar o fortalecimento dos Estados Nacionais no pós-Revolução Francesa, Anderson faz uma diferenciação da nação como surgimento espontâneo popular anterior com este que seria a "cópia pirata". Assim, ele mostra o movimento feito pelos déspotas esclarecidos em reação ao clima instaurado na Europa pela Revolução Francesa. A fim de manter seus Impérios, as aristocracias adotavam medidas modernizantes, porém com a mesma estrutura de dominação. Seriam elas a criação dos exércitos regulares, a oficialização dos idiomas em reinos que abrigavam diversos idiomas e o discurso da expansão imperial. Assim o Japão, por exemplo, destituiu o poder dos samurais e criou a identidade nacional com campanhas bélicas de sucesso.
Nesta narrativa que aparece um detalhe para o qual o leitor deve ter atenção. Anderson dá uma série de exemplos onde houve resistência a estes movimentos imperialistas, que poderiam ser embriões de um nacionalismo de viés popular.
Ele caracteriza o levante de 1905 na Rússia como uma resistência a russificação do reino Romanov. Para o autor, o levante dos operários e camponeses contra a aristocracia tinha este embasamento. Narra também a greve de 1910 dos comerciantes chineses em Bangcoc contra as autoridades do Sião. A esta ele qualifica como nascida de um "republicanismo popular".
Na lógica de Anderson, esta análise assemelha-se a que ele faz da América. A dominação imperial constrói a sua negação, que por mais que não seja consciente em todos os casos, aponta para a possibilidade de um nacionalismo revolucionário.
A fim de entender o discurso nacionalista feito pelos setores da esquerda e pelas classes dominadas, o leitor poderia sair decepcionado destes capítulos. Apenas se não desse atenção para um problema levantado pelo autor mas que ele mesmo não dedica muita atenção.
Em "Pioneiros Crioulos", o autor entende o nacionalismo desenvolvido na América como inovador, haja vista que este discurso ainda não havia se desenvolvido plenamente no Velho Continente. Para ele, antes do surgimento dos "déspotas esclarecidos" europeus. O caráter fragmentado da admnistração imperial espanhola teria conduzido os crioulos (integrates da elite colonial descendentes de espanhóis nascidos na América) a desenvolver o discurso nacionalista antes mesmo do que houve na Europa. Os privilégios dos legítimos espanhóis frente aos crioulos os levariam a estimular a consciência nacional no continente.
Curiosamente, o Império Espanhol, apesar de admitir em todo o seu território apenas um idioma, não haveria criado uma consciência nacional em todo o território. A condição política fragmentada da colônia fez surgir diversos Estados Nacionais , movimento que teria ainda um caráter elitista, excluindo índios e escravos africanos. Benedict Anderson afirma que este aspecto teria sido um impecilho ainda para Simon Bolívar.
Claramente, Anderson se reaproxima da idéia de "invenção da nação" que ele combate no início do livro ao caracterizar o surgimento da comunidade imaginada nação. Não sendo o idioma um aspecto fundamental para a consolidação das identidades nacionais, nem havendo uma comunidade religiosa que se amparasse num idioma sacralizado e portanto, não havendo forte influência de um capitalismo editorial no discurso nacionalista, o autor opta exclusivamente pelo aspecto político para entender as nações americanas. Os Crioulos, fortalecidos enquanto ator político, construiram o discurso nacionalista a fim de legitimar seu poder enquanto classe social. Assim, os aspectos culturais americanos são postos de lado, e nem sequer há uma investigação da possibilidade do discurso de Bolívar e a base social que este pensamento representava.
Esta análise nos deixa duas possibilidades: ou o fato de determinado território com autoridade política estabelecida ser dominado por um Império em si estimula o discurso nacionalista pelos dominados; ou o nacionalismo americano carrega o legado cultural europeu. Vale destacar que Anderson nega esta perspectiva, apesar de esta ser a mais possível. A primeira, no entanto, nos levaria a um determinismo histórico.
Mas voltando a vaca fria, ao narrar o fortalecimento dos Estados Nacionais no pós-Revolução Francesa, Anderson faz uma diferenciação da nação como surgimento espontâneo popular anterior com este que seria a "cópia pirata". Assim, ele mostra o movimento feito pelos déspotas esclarecidos em reação ao clima instaurado na Europa pela Revolução Francesa. A fim de manter seus Impérios, as aristocracias adotavam medidas modernizantes, porém com a mesma estrutura de dominação. Seriam elas a criação dos exércitos regulares, a oficialização dos idiomas em reinos que abrigavam diversos idiomas e o discurso da expansão imperial. Assim o Japão, por exemplo, destituiu o poder dos samurais e criou a identidade nacional com campanhas bélicas de sucesso.
Nesta narrativa que aparece um detalhe para o qual o leitor deve ter atenção. Anderson dá uma série de exemplos onde houve resistência a estes movimentos imperialistas, que poderiam ser embriões de um nacionalismo de viés popular.
Ele caracteriza o levante de 1905 na Rússia como uma resistência a russificação do reino Romanov. Para o autor, o levante dos operários e camponeses contra a aristocracia tinha este embasamento. Narra também a greve de 1910 dos comerciantes chineses em Bangcoc contra as autoridades do Sião. A esta ele qualifica como nascida de um "republicanismo popular".
Na lógica de Anderson, esta análise assemelha-se a que ele faz da América. A dominação imperial constrói a sua negação, que por mais que não seja consciente em todos os casos, aponta para a possibilidade de um nacionalismo revolucionário.
Parabens Allysson! Neste artigo você conseguiu ponderar de maneira complexa as teorias de Anderson e expôs uma interessante reflexão sobre a América Espanhola. O fator lingua não foi o suficiente para garantir uma unidade política daqueles vastos territórios. Mas tem outras questões de ordem cultural e intelectual. As universidades da Hispano-América já em início do XIX formava em ambito local, suas elites políticas dirigentes, e também a estrutura política do império espanhol, ja dividia suas pocessôes em diferentes vice-reinados com elites regionais de forte identidade local. São elementos importantes. Até a próxima.
ResponderExcluirLucas Machado.
vc é burro
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