sábado, 1 de janeiro de 2011

Eu, tu, ele, Quaresma

Nosso Blog passou por um pequeno recesso. A visita de Long John ao continente americano foi razão para muitas tagarelices e novas histórias a serem contadas. Grande conhecedor das intrigas que movem o Velho Continente, John Silver é um curioso a respeito das tradições brasileiras. Recomendei-lhe um livro ao qual compartilho a experiência da leitura com vocês. É o “Triste Fim de Policarpo Quaresma” , de Lima Barreto. Feliz Ano Novo, e novidades virão no Blog!


Muito se ouve falar do Major Quaresma como um tolo, um anacrônico, uma caricatura. Pois ainda que caricaturado, muito há de se extrair do simpático major do início do século XX. Descrito como um homem sem vaidades, Policarpo Quaresma tinha apenas uma ambição: fazer do Brasil uma grande nação. Isso em si poderia não dizer nada, haja vista que sobre esse pretexto muitos se fizeram, inclusive as Forças Armadas. No entanto, o major, com seu apreço por tudo que é nacional, vive em dedicação integral em estudar o seu país a fim de resolver seus problemas e explorar suas riquezas da melhor forma.
Nesta aventura, nosso amigo vai em busca daquilo que é popular para afirmar a cultura nacional. Assim, vem a discutir aquilo que é da origem indígena e africana em contraposição ao estrangeirismo das elites brasileiras no tempo do Marechal Floriano. Neste propósito busca aprender a tocar o violão com o badalado artista da época, Ricardo Coração dos Outros, e se depara com o preconceito de seus pares para com as modinhas populares. Esta sua amizade, por sinal, é simbólica do tipo de construção identitária a qual buscava o Major.
Desenvolve suas manias, passa pelo hospício, vira agricultor a fim de desenvolver as terras brasileiras e termina pela opção política, onde embriagado por uma ingenuidade acaba por entrar em contradição consigo mesmo. Aí se contrapõem as visões de nacionalismo do governo e a de Quaresma.
É importante destacar a atualidade desta obra, tendo em vista que as mesmas questões ainda estão colocadas. Nosso povo, apesar de ver um crescimento econômico grande, ainda carece de se conhecer, de se afirmar e através disso construir sua identidade. Esta é a chave para termos uma nação forte com um povo livre, consciente de si. Do contrário, nosso nacionalismo só virá a distanciar-nos da nossa cultura e fazer crescer o poder político e econômico das nossas elites.
Quaresma nos é um ícone. Ainda que caricato, um ícone. Ele traz consigo as aspirações de nossas culturas populares, oprimidas e marginalizadas na formação de nossa nação. É nesse espírito que nós, estrangulados, porém amotinados, devemos nos inspirar.
Viva Policarpo Quaresma!

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