sábado, 29 de janeiro de 2011

Força de Trabalho à Venda

"Vende-se força de trabalho. Jovem, 22 anos, recente pai de família, graduando em Ciências Sociais, hábil em compreensão de Inglês e com noções básicas de Espanhol, sem experiência com carteira assinada, experiência com bolsa de pesquisa."


Este anúncio anda na praça há cerca de um mês com apenas um retorno objetivo. Promotor de vendas da Skill. Não sendo hábil na venda de um picolé de jiló, uma geladeira para o Pólo Norte ou uma rosa murcha no Dia dos Namorados, não me apresentei como uma pessoa interessante para ocupar a vaga.
São grandes ainda as dificuldades para o jovem que cedo tem a necessidade de constituir família, de conseguir base material para sustentar um lar. Não tendo uma formação técnica, essas dificuldades são ainda maiores. Se tivesse eu concluído  meu técnico de informática no proletário Colégio Primeiro de Maio, talvez hoje não estivesse nesta pindaíba.
Mas o objetivo deste artigo não é nem me lamentar nem vender o meu peixe, apesar de ter feito os dois por tabela. Tudo isto nos coloca uma reflexão : a falta de legitimidade da Universidade já tem seus reflexos no mercado de trabalho.
O leitor atento diria : "Ah, mas se você estivesse cursando Engenharia não estaria nessa". E, sem dúvida, é verdade. O interessante é observar que não apenas na Engenharia, como nos cursos de ponta do capitalismo, ( a saber: Admnistração, Contabilidade, Direito) o mercado concorre com a Universidade. No nosso exemplo inicial, a Engenharia, assistimos muitos graduandos que empregados no terceiro ou quarto período abandonam a faculdade, por não mais necessitarem dela. Na Admnistração, conversando com lideranças do curso na Praia Vermelha, a maior inquietação é que quase não há produção de pesquisa ou qualquer vínculo com a universidade, tendo em vista que os estudantes estão sendo preparados exclusivamente para o mercado.
Estes são os cursos de ponta, aqueles em que a produção tem um interesse direto. Os que tendem para a área de Humanas, estes sim estão perdidos. Não há espaço para nós na vida social, além do campo acadêmico e, o campo acadêmico hoje está cada vez mais apartado desta vida social, tem aspirações de auto-suficiência. E o efeito disto, agora percebido com mais clareza por mim, está nas ruas. De que me adianta a condição de futuro sociólogo? De que me adianta a minha bagagem no estudo das Ciências Sociais? De nada adianta, frente a este mundão, que por ver a Universidade de cara feia para ele, passa também a não dar muita atenção para ela e seguir outros caminhos.
É Academia, é bom você dar o seu jeito, porque sobreviver neste mundo cão não está fácil. Eu vou dar o meu jeito, acho bom tomar tento também.

2 comentários:

  1. No caso das Ciências Humanas eu acho que o caso é ainda mais grave porque a sociedade ainda não enxerga a funcionalidade da área.

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  2. É isso mesmo Allysson,a Universidade se fecha a sociedade e esta acaba retribuindo da mesma maneira. A Academia se acha suficiente em si só, e mesmo sabendo que seu estudo é fruto do meio social - seja por ser toda a população que paga ou mesmo por ser objeto de estudo e vivencia - se opoe a viver a relação! Precisamos de uma nova cultura universitária que forme para alem do mercado de trabalho e de uma sociedade que reconheça os seus frutos.

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