sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

As Contas do Império : "Relações comerciais Brasil América do Sul e o processo de primarização das exportações desde o Plano Real"



Por Thiago Machado           


 As alterações no paradigma do crescimento das nações, baseado numa ideologia mais liberalizante e mudanças no paradigma tecnológico, foram acompanhadas por uma maior integração mundial, em termos comerciais e de comunicação. Essa integração impactou e impacta, diretamente a cultura e as características de consumo da população mundial, junto de uma forte integração financeira. Um dos aspectos desse fenômeno é a criação de uma serie de blocos econômicos construindo redes comerciais em diversas regiões, ou blocos econômicos, como o caso da União Européia, do Mercosul, da NAFTA, entre tantos outros.
            Para o caso brasileiro, essas transformações trouxeram alguns impactos para o comercio exterior nacional. A maior integração do mercado sul-americano ampliou fortemente as exportações brasileiras para a região sul americana, onde de 1990 a 1997 as exportações brasileiras para esta região cresceram em termos reais[1], 284,96% em contrapartida, as exportações cresceram em média, nesse mesmo período, apenas 39,88%.
            Esse crescimento das exportações para a América do Sul escondeu uma característica do comercio exterior nacional da década de 90. Como as exportações brasileiras para essa região são marcadas por uma forte composição de produtos manufaturados, isto escondeu o fato, de as exportações estarem sofrendo um processo de primarização, ou especialização regressiva, desde o início da década de 90 e não apenas na primeira década do século XXI, como vêem sendo discutido por diversos economistas atualmente.
A participação das exportações brasileiras de manufaturados, retirando-se a América do Sul em média de 1990 a 1993 era de 52,73%. Contudo, o período de 1994 a 1998, essa relação passa a ser em média de 46,4%, chegando ao ponto de mínimo em 1997, com 43,56%, que passa a melhorar daí em diante até os anos 2000, chegando a 50,89%. Em contrapartida, quando se olha apenas à composição das exportações totais, essa relação é extremamente minimizada. Pois, a média da composição das exportações de bens manufaturados de 1990 a 1993 é de 58,4% e a média de 1994 a 1998 é de 56,75%, ou seja, uma queda relativa de apenas 1,65%, em contrapartida, retirando-se o comércio Sul Americano, a perda relativa dos produtos manufaturados é de 6,33%.   

. A maior competitividade da indústria nacional, em relação ao restante da América do Sul, ocasiona essa “deturpação estatística”. Mas, se comparar com o restante da economia mundial, a mudança no paradigma de desenvolvimento nacional trouxe consigo uma forte perda de competitividade do setor industrial, devido a forte alteração dos preços relativos com a liberalização econômica, iniciada na década de 90. Um outro elemento que auxiliou as exportações brasileiras é o fato do processo de liberalização econômica, com forte valorização cambial, ter sido um fator em comum a todos os países da América Latina, sobre valorizando o câmbio de todos os países da região, não alterando de forma tão drástica a competitividade da indústria nacional frente às demais indústrias da região. 
Contudo, apesar da forte demanda desses países por produtos manufaturados brasileiros, o mercado Sul Americano ainda possui grande potencialidade de crescimento do comercio intra-regional, caso seja feita uma estratégia bem sucedida de integração regional e desenvolvimento industrial. Pois, se comparar a participação do comercio intra-regional de outras regiões, que representam, em relação ao seu comercio exterior total, as seguintes percentagens: 68% na Ásia, 60% na União Européia e 55% na Nafta, o Mercosul e a América do Sul, possuem respectivamente apenas 25% e 10%, de acordo com dados de para o ano de 2000.
América do Sul tem um grande problema, que são as grandes semelhanças em sua produção, impedindo maior nível de integração. Isso influencia na reduzida demanda de produtos regionais por parte do Brasil, que possui uma indústria mais desenvolvida e diversificada. Competindo em diversos nichos com as indústrias da região, gerando problemas para as demais economias locais, já que, o Brasil constantemente apresenta superávits na Balança Comercial regional.
Consequentemente, o processo de primarização das exportações não é um fenômeno apenas do século XXI, devido ao crescente centro gravitacional da economia mundial, o Leste asiático, com pólo na China, mas um fenômeno que tem ocorrido desde o processo de liberalização econômica, com destaque para ruptura do Plano Real. Conforme foi defendido anteriormente, apesar da forte mudança dos preços relativos dos bens comercializáveis, nossa indústria se viu numa relação razoavelmente estável, em relação ao comercio sul-americano, já que, a região como um todo passou por um forte processo de liberalização econômica, com forte apreciação cambial.
Poderia se criticar tal visão, afirmando que mesmo que os países sul-americanos tenham tido em comum uma forte valorização cambial, os mesmos poderiam ter sua demanda atendida por produtos manufaturados, pelo restante do mundo. Toda via, a integração regional foi acompanha por certo nivelamento das tarifas alfandegárias da região, alem de maiores facilidades legais facilitando seu comercio, “em detrimento” ao resto do mundo.




[1] Deflacionado pelo IPC norte americano; fonte: Bureau of Labor Statisc BLS

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