Alexandra Kollontai (1872/1952) foi uma grande personagem da Revolução Russa e da União Soviética. Grande estimuladora do debate feminista no interior do Partido Social Democrata Russo e no próprio movimento operário, Kollontai foi responsável por grandes avanços nos direitos das mulheres quando da tomada do poder pelos bolcheviques, tendo assumido o cargo de comissária do povo. A seguir, um artigo seu sobre o Dia da Mulher, de 1913. De lá para cá a luta política ganhou contornos bem diferentes, no entanto o artigo é bem elucidativo no que diz respeito às polêmicas do feminismo. Alexandra busca neste uma perspectiva classista da luta feminista. Segue abaixo:
"O quê é o dia da Mulher? É realmente necessário? Será que é uma concessão às mulheres da classe burguesa, às feministas e sufragistas? Será que é nocivo para a unidade do movimento operário? Estas questões ainda se escutam na Rússia, embora já não no estrangeiro. A vida mesma deu umha resposta clara e eloqüente a tais perguntas.
O Dia da Mulher é um elo na longa e sólida cadeia da mulher no movimento operário. O exército organizado de mulheres trabalhadoras cresce cada dia. Há vinte anos, as organizações operárias nem tinham mais do que grupos dispersos de mulheres nas bases dos partidos operários... Agora os sindicatos ingleses tenhem mais de 292.000 mulheres sindicalizadas; na Alemanha som à roda de 200.000 sindicalizadas e 150.000 no partido operário, na Áustria há 47.000 nos sindicatos e 20.000 no partido. Em toda as parte, em Itália, na Hungria, na Dinamarca, na Suécia, na Noruega e na Suíça, as mulheres da classe operária estão a organizar-se a si próprias. O exército de mulheres socialistas tem perto de um milhão de membros. Umha força poderosa! Uma força com a qual os poderes do mundo devem contar quando se põe sobre a mesa o tema do custo da vida, a segurança da maternidade, o trabalho infantil ou a legislação para proteger os trabalhadores.
Houve um tempo em que os homens trabalhadores pensavam que deveriam carregar eles sós sobre os seus ombros o peso da luta contra o capital, pensavam que eles sós deviam enfrentar-se ao "velho mundo", sem o apoio das suas companheiras. Porém, como as mulheres da classe trabalhadora vam entrar nas fileiras de aqueles que vendem o seu trabalho em troca de um salário, forçadas a entrar no mercado laboral por necessidade, porque o seu marido ou pai estava no desemprego, os trabalhadores vam começar a reparar em que deixar atrás as mulheres entre as fileiras dos "não-conscientes" era danar a sua causa e evitar que avançasse. Que nível de consciência posui umha mulher que senta no fogão, que não tem direitos na sociedade, no Estado ou na família? Ela não tem ideias próprias! Todo se fai segum ordena o seu pai ou marido...
O atraso e a falta de direitos sofridos polas mulheres, a sua dependência e indiferença não são beneficiosos para a classe trabalhadora, e de facto são um mal directo para a luta operária. Mas, como entrará a mulher nesta luta, como acordará?
A social-democracia estrangeira não vai encontrar solução correcta imediatamente. As organizações operárias estavam abertas às mulheres, mas só umhas poucas entravam. Por quê? Porque a classe trabalhadora, ao começo, nom vai dar por si que a mulher trabalhadora é o membro mais degradado, tanto legal quanto socialmente, da classe operária, que ela foi espancada, intimidada, encurralada ao longo dos séculos, e que para estimular a sua mente e o seu coração necessita uma aproximação especial, palavras que ela, como mulher, entenda. Os trabalhadores não se võ dar conta imediatamente de que neste mundo de falta de direitos e de exploração, a mulher está oprimida não só como trabalhadora, mas também como mae, mulher. Porém, quando membros do partido socialista operário entenderam isto, fizeram sua a luta pela defesa das trabalhadoras como assalariadas, como maes, como mulheres.
Os socialistas em cada país começam a demandar uma proteção especial para o trabalho das mulheres, seguranças para as maes e os seus filhos, direitos políticos para as mulheres e a defesa dos seus interesses.
Quanto mais claramente o partido operário percebia esta dicotomia mulher/trabalhadora, mais ansiosamente as mulheres se uniam ao partido, mais apreciavam o rol do partido como o seu verdadeiro defensor e mais decididamente sentiam que a classe trabalhadora também lutava pelas suas necessidades. As mulheres trabalhadoras, organizadas e conscientes, fizeram muitíssimo para elucidar este objectivo. Agora, o peso do trabalho para atrair as trabalhadoras ao movimento socialista reside nas mesmas trabalhadoras. Os partidos em cada país tenhem os seus comités de mulheres, com os seus secretariados e burós para a mulher. Estes comités de mulheres trabalham na ainda grande população de mulheres nom conscientes, levantando a consciência das trabalhadoreas em seu redor. Também examinam as demandas e questões que afetam mais diretamente à mulher: proteção e provisão para as maes grávidas ou com filhos, legislação do trabalho feminimo, campanha contra a prostituição e o trabalho infantil, a demanda de direitos políticos para as mulheres, a campanha contra a suba do custo da vida...
Assim, como membros do partido, as mulheres trabalhadoras lutam pela causa comum da classe, enquanto ao mesmo tempo delineam e ponhem em questão aquelas necessidades e as suas demandas que lhes dizem respeito mais diretamente como mulheres, como donas de casa e como maes. O partido apoia estas demandas e luta por elas. Estas necessidades das mulheres trabalhadoras são parte da causa dos trabalhadores como classe.
No dia da mulher as mulheres organizadas manifestam-se contra a sua falta de direitos. Mas alguns dizem, por quê esta separaçom das lutas das mulheres? Por quê há um dia da mulher, panfletos especiais para trabalhadoras, conferências e comício? Não é, enfim, umha concessão às feministas e sufragistas burguesas? Só aqueles que não compreendem a diferença radical entre o movimento das mulheres socialistas e as sufragistas burguesas podem pensar desta maneira.
Qual o objectivo das feministas burguesas? Conseguir os mesmos avanços, o mesmo poder, os mesmo direitos na sociedade capitalista que possuem aogra os seus maridos, pais e irmaos. Qual o objectivo das operárias socialistas? Abolir todo o tipo de privilégios que derivem do nascimento ou da riqueza. À mulher operária é-lhe indiferente se o seu patrão é um homem ou uma mulher.
As feministas burguesas demandam a igualdade de direitos sempre e em qualquer lugar. As mulheres trabalhadoras respondem: demandamos direitos para todos os cidadaos, homens e mulheres, mas nós não só somos mulheres e trabalhadoras, também somos maes. E como maes, como mulheres que teremos filhos no futuro, demandamos uma atenção especial do governo, proteção especial do Estado e da sociedade.
As feministas burguesas estám lutando para conseguir direitos políticos: também aqui os nossos caminhos se separam. Para as mulheres burguesas, os direitos políticos são simplesmente um meio para conseguir os seus objectivos mais comodamente e com mais segurança neste mundo baseado na exploração dos trabalhadores. Para as mulheres operárias, os direitos políticos são um passo no caminho empedrado e difícil que leva ao desejado reino do trabalho.
Os caminhos seguidos polas mulheres trabalhadoras e as sufragistas burguesas separaram-se há tempo. Há umha grande diferença entre os seus objectivos. Há também umha grande contradição entre os interesses de uma mulher operária e as donas proprietárias, entre a criada e a senhora... portanto, os trabalhadores não devem temer que haja um dia separado e assinalado como o Dia da Mulher, nem que haja conferências especiais e panfletos ou imprensa especial para as mulheres.
Cada distinção especial para as mulheres no trabalho de uma organização operária é uma forma de elevar a consciência das trabalhadoras e aproximá-las das fileiras de aqueles que estao a lutar por um futuro melhor. O Dia da Mulher e o lento, meticuloso trabalho feito para elevar a auto-consciência da mulher trabalhadora estão servindo à causa, não da divisão, mas da união da classe trabalhadora.
Deixa um sentimento alegra de servir à causa comum da classe trabalhadora e de luta simultaneamente pela emancipação feminina inspire os trabalhadores a unirem-se à celebração do Dia da Mulher."
FONTE: Arquivo Marxista na Internet
"O quê é o dia da Mulher? É realmente necessário? Será que é uma concessão às mulheres da classe burguesa, às feministas e sufragistas? Será que é nocivo para a unidade do movimento operário? Estas questões ainda se escutam na Rússia, embora já não no estrangeiro. A vida mesma deu umha resposta clara e eloqüente a tais perguntas.
O Dia da Mulher é um elo na longa e sólida cadeia da mulher no movimento operário. O exército organizado de mulheres trabalhadoras cresce cada dia. Há vinte anos, as organizações operárias nem tinham mais do que grupos dispersos de mulheres nas bases dos partidos operários... Agora os sindicatos ingleses tenhem mais de 292.000 mulheres sindicalizadas; na Alemanha som à roda de 200.000 sindicalizadas e 150.000 no partido operário, na Áustria há 47.000 nos sindicatos e 20.000 no partido. Em toda as parte, em Itália, na Hungria, na Dinamarca, na Suécia, na Noruega e na Suíça, as mulheres da classe operária estão a organizar-se a si próprias. O exército de mulheres socialistas tem perto de um milhão de membros. Umha força poderosa! Uma força com a qual os poderes do mundo devem contar quando se põe sobre a mesa o tema do custo da vida, a segurança da maternidade, o trabalho infantil ou a legislação para proteger os trabalhadores.
Houve um tempo em que os homens trabalhadores pensavam que deveriam carregar eles sós sobre os seus ombros o peso da luta contra o capital, pensavam que eles sós deviam enfrentar-se ao "velho mundo", sem o apoio das suas companheiras. Porém, como as mulheres da classe trabalhadora vam entrar nas fileiras de aqueles que vendem o seu trabalho em troca de um salário, forçadas a entrar no mercado laboral por necessidade, porque o seu marido ou pai estava no desemprego, os trabalhadores vam começar a reparar em que deixar atrás as mulheres entre as fileiras dos "não-conscientes" era danar a sua causa e evitar que avançasse. Que nível de consciência posui umha mulher que senta no fogão, que não tem direitos na sociedade, no Estado ou na família? Ela não tem ideias próprias! Todo se fai segum ordena o seu pai ou marido...
O atraso e a falta de direitos sofridos polas mulheres, a sua dependência e indiferença não são beneficiosos para a classe trabalhadora, e de facto são um mal directo para a luta operária. Mas, como entrará a mulher nesta luta, como acordará?
A social-democracia estrangeira não vai encontrar solução correcta imediatamente. As organizações operárias estavam abertas às mulheres, mas só umhas poucas entravam. Por quê? Porque a classe trabalhadora, ao começo, nom vai dar por si que a mulher trabalhadora é o membro mais degradado, tanto legal quanto socialmente, da classe operária, que ela foi espancada, intimidada, encurralada ao longo dos séculos, e que para estimular a sua mente e o seu coração necessita uma aproximação especial, palavras que ela, como mulher, entenda. Os trabalhadores não se võ dar conta imediatamente de que neste mundo de falta de direitos e de exploração, a mulher está oprimida não só como trabalhadora, mas também como mae, mulher. Porém, quando membros do partido socialista operário entenderam isto, fizeram sua a luta pela defesa das trabalhadoras como assalariadas, como maes, como mulheres.
Os socialistas em cada país começam a demandar uma proteção especial para o trabalho das mulheres, seguranças para as maes e os seus filhos, direitos políticos para as mulheres e a defesa dos seus interesses.
Quanto mais claramente o partido operário percebia esta dicotomia mulher/trabalhadora, mais ansiosamente as mulheres se uniam ao partido, mais apreciavam o rol do partido como o seu verdadeiro defensor e mais decididamente sentiam que a classe trabalhadora também lutava pelas suas necessidades. As mulheres trabalhadoras, organizadas e conscientes, fizeram muitíssimo para elucidar este objectivo. Agora, o peso do trabalho para atrair as trabalhadoras ao movimento socialista reside nas mesmas trabalhadoras. Os partidos em cada país tenhem os seus comités de mulheres, com os seus secretariados e burós para a mulher. Estes comités de mulheres trabalham na ainda grande população de mulheres nom conscientes, levantando a consciência das trabalhadoreas em seu redor. Também examinam as demandas e questões que afetam mais diretamente à mulher: proteção e provisão para as maes grávidas ou com filhos, legislação do trabalho feminimo, campanha contra a prostituição e o trabalho infantil, a demanda de direitos políticos para as mulheres, a campanha contra a suba do custo da vida...
Assim, como membros do partido, as mulheres trabalhadoras lutam pela causa comum da classe, enquanto ao mesmo tempo delineam e ponhem em questão aquelas necessidades e as suas demandas que lhes dizem respeito mais diretamente como mulheres, como donas de casa e como maes. O partido apoia estas demandas e luta por elas. Estas necessidades das mulheres trabalhadoras são parte da causa dos trabalhadores como classe.
No dia da mulher as mulheres organizadas manifestam-se contra a sua falta de direitos. Mas alguns dizem, por quê esta separaçom das lutas das mulheres? Por quê há um dia da mulher, panfletos especiais para trabalhadoras, conferências e comício? Não é, enfim, umha concessão às feministas e sufragistas burguesas? Só aqueles que não compreendem a diferença radical entre o movimento das mulheres socialistas e as sufragistas burguesas podem pensar desta maneira.
Qual o objectivo das feministas burguesas? Conseguir os mesmos avanços, o mesmo poder, os mesmo direitos na sociedade capitalista que possuem aogra os seus maridos, pais e irmaos. Qual o objectivo das operárias socialistas? Abolir todo o tipo de privilégios que derivem do nascimento ou da riqueza. À mulher operária é-lhe indiferente se o seu patrão é um homem ou uma mulher.
As feministas burguesas demandam a igualdade de direitos sempre e em qualquer lugar. As mulheres trabalhadoras respondem: demandamos direitos para todos os cidadaos, homens e mulheres, mas nós não só somos mulheres e trabalhadoras, também somos maes. E como maes, como mulheres que teremos filhos no futuro, demandamos uma atenção especial do governo, proteção especial do Estado e da sociedade.
As feministas burguesas estám lutando para conseguir direitos políticos: também aqui os nossos caminhos se separam. Para as mulheres burguesas, os direitos políticos são simplesmente um meio para conseguir os seus objectivos mais comodamente e com mais segurança neste mundo baseado na exploração dos trabalhadores. Para as mulheres operárias, os direitos políticos são um passo no caminho empedrado e difícil que leva ao desejado reino do trabalho.
Os caminhos seguidos polas mulheres trabalhadoras e as sufragistas burguesas separaram-se há tempo. Há umha grande diferença entre os seus objectivos. Há também umha grande contradição entre os interesses de uma mulher operária e as donas proprietárias, entre a criada e a senhora... portanto, os trabalhadores não devem temer que haja um dia separado e assinalado como o Dia da Mulher, nem que haja conferências especiais e panfletos ou imprensa especial para as mulheres.
Cada distinção especial para as mulheres no trabalho de uma organização operária é uma forma de elevar a consciência das trabalhadoras e aproximá-las das fileiras de aqueles que estao a lutar por um futuro melhor. O Dia da Mulher e o lento, meticuloso trabalho feito para elevar a auto-consciência da mulher trabalhadora estão servindo à causa, não da divisão, mas da união da classe trabalhadora.
Deixa um sentimento alegra de servir à causa comum da classe trabalhadora e de luta simultaneamente pela emancipação feminina inspire os trabalhadores a unirem-se à celebração do Dia da Mulher."
FONTE: Arquivo Marxista na Internet
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