Está muito erudito esse pirata! Mandou-me agora suas reflexões sobre o sociólogo alemão Max Weber. Já haveria terminado de ler o Triste fim de Policarpo Quaresma que eu havia lhe indicado, mas não pude saber dele se a coisa se confirmou quando ele esteve no Brasil para o Encontro dos Blogueiros Progressistas, afinal a correiria da vida não me permitiu encontrá-lo. Agora entre um gole de rum e outro, John Silver escreve notas sobre os tipos de dominação descritos por Weber.
" Caro,
Lamentável seu sumiço, mas eu entendo. Estive no Brasil, conheci aquela bebida de maricas que vocês tomam por aí, a tal cerveja. Até gostosa, mas para me embriagar tive que correr atrás de um rum. Apesar de sujeitos boa gente como você e o PV, há umas figuras estranhas nesta terra. Um careca louco me chamou para ir atrás de uns homens vestido de mulher, gritava "bibelô" por aí, logo tive de dissuadi-lo antes que tivesse que substituir minha personalidade amistosa pela minha faca.
Mas indo direto ao ponto, estou lendo o livro de um dos seus, um tal alemão chamado Max Weber. Mais pomposo que seu nome apenas sua forma de escrever, que combinada com o o balano do navio e uma dose de rum são o melhor remédio para a insônia. Mas diz coisas interessantes esse comedor de chucrute.
Eu durante minhas longas viagens vi diferentes tipos de dominação, coisas terríveis até para um bandido do mar como eu. Mas nada como numa ilha que fui certa vez procurar um tesouro que não existia, e acabei retornando com algo mais valioso. Um velho de humor instável vivia com dois guardiões, eram veteranos de batalhas perdidos naquele lugar. O homem morava lá e mantinha sua autoridade, apesar de estarem longe de sua terra natal. Ele, velho manco, já estava inválido, mas vivia do trabalho dos guardiões, que caçavam, plantavam e aturavam os seus xingamentos.
Nunca entendi aquela situação. O velho nada tinha a oferecer àqueles homens, era mantido por eles e ainda os dominava. Um dos guardiões era mais reclamão, questionava levemente e esperniava consigo mesmo na ausência do velho, no entanto via-se que sua ambição era viver da mesma forma, criar os mesmos hábitos. O outro, mais paciente e calado, passava a impressão de estar querendo sempre abandonar aquele local e conquistar sua liberdade, apesar de sua discrição nunca me permitir ter certeza. Sem dúvida, este último teve mais minha simpatia.
Minha inquietação, navegando anos, era o porque daqueles pobres homens não abandonarem aquela vida. Eu, à época, ofereci um trabalho em meu navio, mas eles recusaram. E veja que bela surpresa! Este alemão louco me fez entendê-los. Ele disse que há três formas de dominação: a racional, a tradicional e a carismática. A racional se basearia nas formalidades, no medo à repressão, à forca por conta de desobedecer alguma lei. Isto não seria possível naquela terra esquecida por Deus, não há lei ou coerência ali. A tradicional é quando um homem tão apegado a seus hábitos cotidianos, estes tipos de homens que jamais se arriscariam ir ao mar, obedece sem questionar por tratar-se dos seus velhos costumes. E a carismática é quando o capitão faz-se capitão por suas próprias habilidades, reúne seus marujos e entrega o Sinal Preto ao capitão velho.
Aquele velho sagaz conseguia dominar tradicionalmente e carismaticamente seus guardiões. Ao mesmo tempo que ele era o capitão, a autoridade por conta das hierarquias militares, ele,com sua retórica de velhaco que é, mantinha essa autoridade.
Não pude permanecer. Espero que os guardiões conquistem sua liberdade. Quanto a mim, ainda volto para buscar meu tesouro.
John Silver"
" Caro,
Lamentável seu sumiço, mas eu entendo. Estive no Brasil, conheci aquela bebida de maricas que vocês tomam por aí, a tal cerveja. Até gostosa, mas para me embriagar tive que correr atrás de um rum. Apesar de sujeitos boa gente como você e o PV, há umas figuras estranhas nesta terra. Um careca louco me chamou para ir atrás de uns homens vestido de mulher, gritava "bibelô" por aí, logo tive de dissuadi-lo antes que tivesse que substituir minha personalidade amistosa pela minha faca.
Mas indo direto ao ponto, estou lendo o livro de um dos seus, um tal alemão chamado Max Weber. Mais pomposo que seu nome apenas sua forma de escrever, que combinada com o o balano do navio e uma dose de rum são o melhor remédio para a insônia. Mas diz coisas interessantes esse comedor de chucrute.
Eu durante minhas longas viagens vi diferentes tipos de dominação, coisas terríveis até para um bandido do mar como eu. Mas nada como numa ilha que fui certa vez procurar um tesouro que não existia, e acabei retornando com algo mais valioso. Um velho de humor instável vivia com dois guardiões, eram veteranos de batalhas perdidos naquele lugar. O homem morava lá e mantinha sua autoridade, apesar de estarem longe de sua terra natal. Ele, velho manco, já estava inválido, mas vivia do trabalho dos guardiões, que caçavam, plantavam e aturavam os seus xingamentos.
Nunca entendi aquela situação. O velho nada tinha a oferecer àqueles homens, era mantido por eles e ainda os dominava. Um dos guardiões era mais reclamão, questionava levemente e esperniava consigo mesmo na ausência do velho, no entanto via-se que sua ambição era viver da mesma forma, criar os mesmos hábitos. O outro, mais paciente e calado, passava a impressão de estar querendo sempre abandonar aquele local e conquistar sua liberdade, apesar de sua discrição nunca me permitir ter certeza. Sem dúvida, este último teve mais minha simpatia.
Minha inquietação, navegando anos, era o porque daqueles pobres homens não abandonarem aquela vida. Eu, à época, ofereci um trabalho em meu navio, mas eles recusaram. E veja que bela surpresa! Este alemão louco me fez entendê-los. Ele disse que há três formas de dominação: a racional, a tradicional e a carismática. A racional se basearia nas formalidades, no medo à repressão, à forca por conta de desobedecer alguma lei. Isto não seria possível naquela terra esquecida por Deus, não há lei ou coerência ali. A tradicional é quando um homem tão apegado a seus hábitos cotidianos, estes tipos de homens que jamais se arriscariam ir ao mar, obedece sem questionar por tratar-se dos seus velhos costumes. E a carismática é quando o capitão faz-se capitão por suas próprias habilidades, reúne seus marujos e entrega o Sinal Preto ao capitão velho.
Aquele velho sagaz conseguia dominar tradicionalmente e carismaticamente seus guardiões. Ao mesmo tempo que ele era o capitão, a autoridade por conta das hierarquias militares, ele,com sua retórica de velhaco que é, mantinha essa autoridade.
Não pude permanecer. Espero que os guardiões conquistem sua liberdade. Quanto a mim, ainda volto para buscar meu tesouro.
John Silver"
tá cada vez melhor esse blog!!!
ResponderExcluirMuito bom..
ResponderExcluirJuliana.