domingo, 15 de maio de 2011

A tragédia de realengo e a tragédia das escolas públicas.


Por Bruno Rabello

Uma pesquisa feita sobre a palavra “escola” no dicionário Houaiss de língua portuguesa vai nos levar à pelo menos dez acepções do vocábulo. Em todas elas escola tem significado próximo a conhecimento, ensino ou instituições. Outra pesquisa, sobre a palavra “Palestra”, vai nos levar ou a Roma e a Grécia em seu significado diacrônico ou novamente a significados que remetem a conhecimento, saber ou dialogo. Se construirmos uma oração em que constem os dois vocábulos (escola e palestra) e mais os vocábulos “crianças” e “ricas”, certamente não precisaremos escrever as palavras “falso” e “tragédia”. Só que se a expressão for “crianças pobres”, a coisa muda um pouco e algumas construções oracionais impensáveis começam a poder ser construídas.
Digo isto porque em pouco tempo aconteceram dois fatos que embora não tenham nenhuma correlação entre si, eles se correlacionam com a precariedade da educação no país. A tragédia em realengo foi um desses casos, porque embora se tenha noticiado que o atirador “invadiu” a escola, ele na verdade se apresentou como um “palestrante” e entrou sem qualquer problema. Essa semana um rapaz que se dizia oficial da aeronáutica foi detido pela polícia ao dar palestras para estudantes em escolas de SP, pelo menos neste caso não houve tragédia. Mas será mesmo que não houve tragédia? O falso militar já havia se apresentado (com êxito) em outras escolas, assim como muitos outros podem fazer o mesmo sem que ninguém verifique a veracidade de suas credenciais ou informações prestadas.
Os dois fatos aconteceram em estados diferentes, porém em instituições muito parecidas, as “escolas públicas”. Instituições que agregam os jovens filhos de trabalhadores, gente sem dinheiro, pessoas que dependem do serviço público para educar seus filhos. Portanto uma pergunta simples poderia ser feita, se acaso o atirador de realengo ou qualquer outro “palestrante”, mesmo que ex aluno, quisesse entrar em uma das instituições privadas que atendem as elites do país, ele conseguiria? Ou as duas ocorrências só aconteceram porque junto com o sistema público de educação também estão o descaso e o abandono.
Assim encontramos algo que une os dois fatos, jovens problemáticos que se apresentaram como palestrantes em escolas públicas. Nos dois casos a polícia esteve envolvida e entrou na escola. Talvez estes dois rapazes não chegariam a isso se o sistema educacional não tivesse sido insuficiente, mas foi. Foi e continua sendo com milhares de meninos e meninas que assistem a “palestras” duvidosas em seu dia a dia, que têm seu professor mal pago e mal formado e seu futuro cada vez mais bem delineado.
Se pesquisarmos a palavra descaso no dicionário Houaiss da língua portuguesa encontraremos apenas uma acepção: substantivo masculino; procedimento próprio daquele que não dá importância ou atenção a; desconsideração, desdém, desprezo.




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