segunda-feira, 18 de julho de 2011

Para Além da Revolução Democrático-Burguesa: Os desafios do socialismo científico na América







Temos visto neste período pós-União Soviética a predominância de disputas étnicas e religiosas nos conflitos políticos recentes. Esta explosão de construção de identidades, de "culturas entre aspas" como define a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha sobre estas culturas auto-proclamadas, é um fenômeno recente que, somado a atual crise do neoliberalismo, vem caracterizando a emergência das lutas populares neste período recente.
O imperialismo, além de subjugar a classe trabalhadora dos países periféricos, força uma política de padronização cultural, a fim de estabelecer uma ordem mundial. Quero dizer com isso que, para dominar, é interessante que além de construir dependência, exercer repressão, imponha-se valores também ao dominado. Para se pensar a emancipação política latino-americana é preciso buscar saídas que reforcem esta identidade em contraposição a identidade de homem ocidental fundada nos valores iluministas e eurocêntricos e, ouso dizer, vem sedo este o equívoco das organizações revolucionárias de nosso continente.
A auto-determinação dos povos, tão cara a Lênin, é no entanto, má desenvolvida pelo leninismo. A saída que a Rússia revolucionária encontrou, de fortalecimento de seu Estado Nacional, de industrialização plena e por conseguinte, de uniformização das atividades econômicas através da universalização do proletariado é tomada como receita pelas organizações revolucionárias que se reportavam a Internacional Comunista, através da tese da Revolução Democrático-Burguesa, que resumia-se na aliança entre proletariado e burguesia para superar os atrasos do regime feudal, o que levou muitas dessas organizações ao fracasso.
Hoje, apesar dessas teorias se conformarem diferentemente, parecem seguir a mesma lógica. A tática destas organizações para a luta política, ainda direcionada para a disputa do Estado-Nação, é a industrialização e o crescimento econômico como fortalecimento do Estado para resistir ao imperialismo. No entanto, como parece revelar o caso brasileiro, este fortalecimento do Estado sem o fortalecimento de identidades tende a descambar para o surgimento de mais uma potência capitalista. Isto pode se verificar no grande lobby do governo brasileiro pelo ingresso no Conselho de Segurança da ONU e suas recentes declarações críticas aos governos islâmicos, o que o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), em entrevista ao programa "Roda Viva", chamou de "se fazer de bonzinho". Fazer-se de bonzinho a quem? Ao imperialismo, sem dúvidas.
Enquanto pensamos a nossa condição de existência política nos moldes universalistas do capitalismo, ou seja, um Estado-Nação uno, neoliberal, com todo arcabouço ideológico universalista que diz respeito às noções de democracia, civilização, cosmopolitismo e, com isso, negação de nossas raízes afrodescendentes, indígenas, será difícil nos desenvolvermos de forma autônoma e principalmente anti-imperialista.
Sobre isso nossos vizinhos vêm nos dando bons exemplos. Enquanto a Venezuela desenvolve a idéia da Revolução Bolivariana, de interação da América, a Bolívia aprovou recentemente uma constituição calcada na cultura dos povos indígenas bolivianos, com autonomia dos povos indígenas e com um Direito pensado também a partir das noções de sociedade desses povos, no que eles chamam de Estado Plurinacional, uma busca consciente de afastamento do Estado-Nação ocidental padronizante. Talvez olhá-los não como nossos irmãos frágeis, mas como irmão que estão sugerindo inovações para o nosso continente fosse mais proveitoso para o nosso próprio "pensar o Brasil".

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