Acredito que exista um censo comum, que diz que o desenvolvimento tecnológico é fundamental para o desenvolvimento econômico de um país, ou uma nação. No entanto, é facilmente perceptível a falta de inovação industrial e tecnológica no Brasil, ou uma melhora na posição do ensino superior, que apesar de nossa economia se configurar cada vez mais entre as principais economias do mundo, não possui sequer uma universidade entre as 100 melhores do mundo.
Apesar de tudo isso, existe uma forte percepção nacional de melhora na qualidade de vida (o que realmente ocorreu) e que o Brasil veem sofrendo um processo de desenvolvimento econômico. Contudo, o que realmente ocorreu ao longo dessa ultima década e para melhor responder isso, como podemos definir desenvolvimento econômico?
Como aumento da renda? Melhora na qualidade de vida? Desenvolvimento de novas tecnologias? Melhora na educação? Acredito que cada um desses itens, se refere a alguns aspectos que implicam e/ou caracterizam o desenvolvimento econômico de uma nação. Mas, de que forma pode-se trazer uma elevação da renda nacional de forma constante e consistente, para um real desenvolvimento econômico?
Nesse instante, gostaria de citar Schumpeter. Ele divide a economia em setores estáticos e dinâmicos. O primeiro opera de forma constante, sem substancias transformações qualitativa, com quase somente, incremento quantitativo na estrutura produtiva. O segundo se refere a transformações qualitativas na estrutura de produção e consumo. De acordo com sua definição, o “Desenvolvimento Econômico” esta atrelado a transformações qualitativas na estrutura de produção, enquanto “Crescimento Econômico”, esta ligado a expansão quantitativa, sem significativas mudanças qualitativas.
Essa distinção se faz necessária, porque a elevação da renda per capita de um país esta ligada a capacidade de aumento de produção, que, por conseguinte, esta ligada a um mercado consumidor em potencial para tal produto e, além disso, também esta atrelada ao preço relativo desses produtos no mercado mundial. O aumento da produção, associado com a dinâmica de preços desses produtos, irão determinar a evolução da renda per-capita nacional (que é um bom indicador de desenvolvimento econômico, mas longe de ser o único).
A geração de novas tecnologias possibilitará o descobrimento de todo um novo mercado consumidor, pode-se utilizar como exemplo, o caso dos celulares e da indústria de informática da década de 90, que revolucionaram a economia e criou todo um novo mercado. Quando se gera uma nova tecnologia como essa, o mercado potencial é tremendo e a capacidade de produção é extremamente limitada, inicialmente, isto cria pressões pelo lado da demanda pressionando a pratica de preços mais elevados, associado com forte potencial de mercado consumidor, aumentando assim a renda nacional. Agora, olhando para produtos, como as commodities (produtos básicos, como arroz, minério de ferro, soja entre outros), a demanda por esses bens já esta razoavelmente bem atendida. Pois o consumo de arroz, por exemplo, não sofrerá bruscas mudanças, porque seus vetores de crescimento são o aumento populacional e marginalmente a melhora dos padrões de alimentação da população. Tais características da estrutura de demanda e oferta fazem com que o preço relativo desses produtos, no mercado mundial, seja depreciado, associado a isto, tem se um pequeno crescimento do mercado desse produto, sendo seu crescimento, em termos de renda, inferior ao crescimento da renda mundial. O exato oposto ocorre com produtos mais intensivos em tecnologia.
A experiência da economia mundial traz esse fato, as importações da OCDE em 1963, era composta de 57% de produtos primários elaborados e não elaborados e nos anos 2000, essa relação representava apenas 24% (desconsiderando em ambos os casos os combustíveis, devido a sua peculiaridade). Em contraste, as importações de maquinas e equipamentos de transporte mais do que dobraram sua participação relativa, durante esse mesmo período, de 18,4% para 41%.
O mesmo ocorre na dinâmica dos preços relativos entre produtos primários e industrializados, em diversas estáticas mundiais apontam para uma deterioração dos preços relativos dos produtos básicos, em relação aos mais intensivos em tecnologia, quando se observa um longo período de tempo. Utilizando o exemplo do Brasil, de acordo com dados da Funcex em meados de 2003 era necessário 11,52 vezes mais produtos básicos para se trocar pela mesma quantidade de bens industrializados, do que em 1978 (início da série).
Portanto, minha grande preocupação com o pseudo “desenvolvimento econômico” do Brasil, é a transformação em sua base produtiva que esta cada vez mais primária e com pouco desenvolvimento industrial. No entanto, isso só tem sido possível graças às transformações da economia mundial, com fortíssimo papel jogado pela China, que tem alterado a dinâmica de preços no mercado mundial associado com outras mudanças (contudo isto é um trabalho para outro artigo). A grande questão a ser levantada é se esse processo de mudanças de preços relativos se mantem no longo prazo, o que historicamente se mostra o contrário. Acho que uma lição que devemos nos lembrar é o quanto o desenvolvimento tecnológico, sempre empenhou papel fundamental no desenvolvimento econômico. Não caíamos no erro do assessor do presidente Bush citado a seguir:
“Durante a campanha presidencial americana de 1992, o principal assessor econômico do Presidente Bush foi questionado sobre o aparente declínio do conteúdo tecnológico das exportações de seu país; ele respondeu que não via nenhuma diferença em exportar batatas chips em vez de micro-chips.”
Este artigo se propõe a ser o primeiro de muitos, que irão analisar algumas questões da mudança mundial e políticas para a conquista de tais transformações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário