quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Ano Novo! Vida Nova?

"Caro Allysson,

Você sabe muito bem que marujos como eu são chegados a superstições. Sereias, crackens, mortos-vivos, franceses amigáveis. Em tudo isso acreditamos. Mas Papai Noel, Coelho da Páscoa, julgamento justo para piratas, isto já não faz parte das nossas crenças. Ano novo também não, até agora. Mas você sabe que atualmente ando mais simpático a esses costumes da gente comum? Pois então, nesse início de 2013 decidi inovar e viajar por terra.
Deixei o comando do navio nas mãos de Cão Preto. Esta nunca é uma ideia prudente, mas ele tomado pelo mais nobre espírito holandês levou a tripulação para Recife, a fim de observar este tal CONEB da UNE e o Encontro de Grêmios da UBES. Ficou sabendo que estão querendo que o povo do cais também possa ser sabido, letrar-se, e então não pude contê-lo. Mas fique tranquilo, garanti que retirassem todo o rum do convés, e penso assim ter evitado que algumas mortes ocorram pelas mãos trêmulas e nervosas deste cachorro navegante!
Mas eu resolvi ficar e ir por terra firme. A imagem de um homem morto, com moedas de sangue boiando na poça de sangue que saía de sua cabeça me fez repensar o sentido dessas tantas viagens. Já Cão Preto aproveitou o ouro e levou consigo, é claro. Sem sequer deixar algo para a boa passagem do homem. Mas o fato é que este início de ano tem me deixado mais mole para essas crueldades da vida.
E por sinal, o lugarejo onde estive anda cheio de notícias de mortes e crueldades que correm as redondezas. No entanto, eu não passei por nenhuma tempestade, por onde andei esteve sempre um clima ameno e o povo amistoso.
Eu tão acostumado a ouvir a palavra liberdade da boca dos franceses, e até dos americanos (onde estive preso, por ironia), dessa vez ouvi dos japoneses. O rum não era caro, ao contrário do que se podia esperar, e os sotaques os mais diversos. Hábitos dos mais diversos e apesar da vida dura os sorrisos não se negam. Ah, existe amor por lá, sim, meu caro! Existe!
Despedidas sentidas, olhos marejados, ainda fiz amizade com um garotinho que pegava o trem comigo. Curioso com a minha aparência de homem do mar, ele me contava como gosta de futebol, mas não torcia pelo time da cidade. Parece realmente que há um lugar para todos lá, ainda que seja no coração anfitrião do povo do local.
Mas logo estarei de volta ao mar. Sigo para o litoral e esperarei a volta de Cão Preto. Que novidades ele terá para contar? Esse ano será mais de grandes missões que de aventuras. Mas sempre há tempo para uma caça ao tesouro, não é verdade, marujo? ho ho ho

John Silver"

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