domingo, 30 de dezembro de 2012

Dissecando o Sinal Preto

Ano acabando, troca de presentes e eis que minha irmã entrega ao meu pai uma nova edição de "A Ilha do Tesouro". Resolvi, portanto, encerrar o ano contando um pouco da história do blog e também deste livro, que é a grande inspiração do primeiro, nos cedendo inclusive o cozinheiro do Hispaniola, Long John Silver.
Esta obra de Robert Louis Stevenson data de 1883 e consagrou-se como um clássico da literatura infanto-juvenil. Meu pai lera este livro em sua adolescência, e ele foi apresentado a mim nesta mesma fase da vida. Um livro velho, que meu pai havia lido e que continha uma história de aventura certamente foi algo que me chamou muita atenção.
A história consiste na aventura de Jim Hawks, um menino que perde o pai logo no início da trama. Descobrindo o mapa do tesouro do velho capitão Flint, pirata cuja temível reputação o antecede, Jim une-se a um advogado e um médico que eram próximos à família na busca desse tesouro, passando por conflitos inúmeros com piratas, motins, etc. Neste meio tempo é que surgem os personagens que transitam pelo blog. A chegada do velho Bill Bones com sua arca misteriosa à hospedaria que Jim trabalhava antecede a morte do pai do personagem principal. Frequentemente, John Silver cita o velho marujo Bill Bones nos emails que me manda, com destaque para aquele que se tornou o artigo "Long John e o Casamento Real", no qual ele comenta o casamento do príncipe William.
Bill Bones se tornou o capitão do navio de Flint, após a sua morte. John Silver era o cozinheiro dessa tripulação que se dispersou após a fuga de Bill Bones. Uma das primeiras partes emocionantes do livro é quando pela primeira vez o sinal preto é entregado. Um pedaço de papel com apenas o horário da destituição do comandante do navio era o sinal do motim entre os piratas. Como Bill já não estava mais a bordo, o sinal preto só poderia significar a sua morte, que viria após uma sangrenta luta com Cão Preto, também da tripulação de Flint. Cão preto também surgiu no Sinal Preto, me enviando um relato da libertação de Long John nos EUA, ao que virou o "Feliz Natal, marujos!".
John Silver esteve por trás de tudo. Ele estava em busca da arca de Bill Bones, mas acaba assumindo uma tática diferente para chegar ao tesouro de Flint. Disfarçando todos os seus comandados de comuns marujos, ele consegue ser contratado para a expedição de Jim Hawks, e a tripulação de Jim é na verdade a tripulação de Long John.  Em muitas idas e vindas na história, é impossível não acabar se traindo, ao se ter uma simpatia pelo vilão que, mesmo se valendo de métodos escusos e traiçoeiros, sempre se permite interagir com o inimigo e inclusive admirá-lo, o que o leva a ter uma grande amizade com Jim Hawks, em tese, seu inimigo.
Nosso blog Sinal Preto, o sinal do motim, passou por diversas fases, de forma que tornou-se até difícil ter certeza de seu objetivo. De início, com a característica de abordar temas acadêmicos, ao mesmo tempo que com um discurso político, o Sinal Preto mudou bastante quando John Silver ancorou o navio no cais. Abordando diversos temas da política, da vida cotidiana de forma mais lúdica, o blog ganhou nova cara, sem perder contudo a proposta da reflexão.
O próprio John Silver mudou bastante de humor durante o tempo. Por vezes rancoroso, principalmente no que tange à sua perseguidora, a Coroa Inglesa, John Silver se fez mais romântico ou sensível algumas vezes, como no artigo "Os estudos marítimos de Max Weber". Algumas poucas vezes conseguimos extrair dele seu espírito velhaco de lobo do mar, como em " A Ilha dos Oráculos", quando sem dúvida sua veia irônica e bem humorada aparece de forma marcante.
Por fim, acho que se pudéssemos resumir o espírito do blog, seria pelo hábito de se olhar a vida de forma mais profunda. Essa é a tentativa, no final das contas. Ver, nas crises, oportunidades. E aprender mais com a vida para transformá-la. Se o navio enfrenta uma calmaria, ou uma tempestade e não se chega nunca ao destino, é bom o capitão se preparar, pois o sinal preto pode aparecer em suas mãos. A rampa para o mar está sempre lá para ser usada.

Um comentário:

  1. Como sempre um post muito bem escrito que nos leva a refletir...
    Gostei de tudo, mas uma coisa que me chamou muito a atenção foi a frase "Ver, nas crises, uma oportunidade"
    Muito verdadeira..
    Adorei!!

    Um beijo mais que carinhoso e uma noite linda.. linda viu?

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