quarta-feira, 3 de abril de 2013

IFCS

14 de fevereiro de 2006. Não me lembro ao certo se essa foi a data da minha matrícula na UFRJ ou a minha filiação à União da Juventude Socialista. Em todo caso, os dois eventos aconteceram bem próximos, e, não à toa, se confundem em termos de importância na minha vida.
Conheci a UJS quando estava no terceiro ano do Ensino Médio num grande ato de coragem de camaradas que fizeram uma fala no pátio do Colégio Bahiense, um colégio privado que nunca esteve aberto à organização do Movimento Estudantil. Fui convidado a uma plenária que se deu na mesma tarde do extinto (ainda bem!) vestibular da UFRJ. Não me filiei naquele momento, mas pela primeira vez senti que meus interesses menos individuais sobre a política, o mundo não faziam de mim um alienígena como eu me sentia perante os meus colegas de turma, ao conversar com Sergio Duarte, vulgo Serginho, que mais à frente seria um camarada de militância.
Bom, voltando à vaca fria, eu conheci o grande universo que é o IFCS, vulgo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, através do mundo da política. Diogo, o grande camarada grande, dizia que o IFCS continha 17 correntes políticas e meia, uma vez que os nazistas que pichavam as paredes permaneciam na clandestinidade. E eu, calouro-militante da tão odiada e almejada UJS, comecei a conhecer e me relacionar com as figuras destas 17 correntes através da política, e, da mesma forma, com os amigos da minha turma.
A condição de calouro também foi descobridora. Há um certo desprendimento forçado nos rituais de passagem que foram o trote e o Churracs. O juramento do calouro, tão cuidadosamente elaborado por Daniel Iliescu, teve de ser quebrado.
Lembro-me bem também dos muitos meses que passei nas tardes no pátio do IFCS lendo A Ideologia Alemã, de Karl Marx,  sempre à espera de Flavinha e Gusta para algumas explicações. O envolvimento com a política e a teoria marxista me transformaram de um admirador da esquerda e simpatizante do socialismo em um militante com uma visão de mundo distinta.
Tudo isto me leva a crer que essa fase me levou a transformar curiosidades em convicções, e me levar a me posicionar diante do mundo. O moleque tímido de Jacarepaguá passava a entrar em contato com o universalismo e o cosmopolitismo tanto da academia quanto da política.
Entrei em contato também com a intolerância e a tolerância. O movimento estudantil e as aulas eram grandes demonstrações de intolerância, no que diz respeito à divergência de ideias. No entanto era grande a tolerância com as potencialidades humanas, ou ao menos era um exercício.
Porém o fascínio com a política era inversamente proporcional ao interesse pelo curso. Natural. Estranho seria se uma carreira tão marcada pelo exercício da crítica não permitisse aos estudantes criticar ela própria. Nisto meu curso foi se atrasando, ao passo que isso me fazia de chacota frente aos amigos. Por que me importar? Estava cumprindo meu papel revolucionário! 
Chegado meu sétimo período, a formatura dos mesmos amigos se avizinhando enquanto a minha ainda estava muito longe, eu tive a oportunidade de me somar à pesquisa da professora Elina Pessanha, a quem sou muito grato, sobre relações de trabalho e Justiça do Trabalho. Hoje me vejo bem distante do tema, mas sem dúvida recuperou meu interesse pelo conhecimento.
A descoberta da Antropologia, disciplina por mim detestada desde o início do curso, me fez entrar de cabeça neste vício que é buscar olhar a sociedade por trás de seus véus. Hoje não tenho religião, mas também não posso me considerar ateu, pois a dúvida se tornou minha maior parceira, e também duvido do discurso do ateísmo, assim como da ciência.
Nestes 7 anos, muita coisa mudou. Minha relação com o humilde prédio sempre prestes a pegar fogo como todo o seu contorno alternou entre altos e baixos. Já tive momentos de desespero ao entrar lá, cruzar o pátio como velho hábito da militância e subir pelo elevador dos fundos. Mas também houve momentos de grandes descobertas e aprendizados.
Hoje saio do IFCS. Pareço sair no momento certo, onde a vida universitária soa mais pragmática e com menos misticismo, mas isso pode ser puro saudosismo. O fato é que já não me sinto mais pertencente. E, como qualquer um que sai de lá, não sei ao certo o que será do meu futuro. Mas independente disto, uma certeza fica : o IFCS não sai mais de mim.

Um comentário:

  1. Muito bonito ver com que convicção continua apostando na curiosidade e na duvida depois de ver tantas certezas estreitamente apresentadas (uma de costas pras outras). Muito bonita a marca que o IFICS (e toda a vivência política dentro e fora dele) construiu na sua personalidade. Muito feliz de ver esse desafio vencido. Parabéns, meu amor!

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