sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Os Objetivos dos Comunistas

Este é um texto do comunista italiano Amadeo Bordiga, grande responsável pela construção do Partido Comunista, membro da III Internacional, na Itália dos anos 1920. Compartilho este texto pela forma didática com a qual o autor enuncia alguns valores da luta pelo socialismo e dá pistas de alguns debates travados na Itália e pela III Internacional.


Os Objetivos dos Comunistas
Artigo de Amadeo Bordiga publicado no "Il Soviet", em 29 de fevereiro de 1920
Tradução: Allysson Lemos Gama da Silva
Publicação em espanhol: GRAMSCI, Antonio; BORDIGA, Amadeo. Debate sobre los consejos de fábrica. Editorial ANAGRAMA.


A revolução social se produz no seio da sociedade capitalista quando se consolida um conflito intolerável entre os produtores e as relações de produção e existe uma tendência a sistematizar essas relações de um modo diferente. Essa tendência deve se chocar com a força mediante a qual a classe dominante, interessada na conservação das relações existentes, trata de impedir que estas relações sejam modificadas; inércia que está representada pelas defesas armadas, cuja organização e funcionamento são cuidadas pelas instituições políticas características do Estado burguês.
Para que a revolução possa concretizar seu desenvolvimento econômico é necessário desarticular esse sistema político que centraliza o poder, e o único meio que a classe oprimida dispõe para fazê-lo é sua organização e unificação em um partido político de classe. O objetivo histórico dos comunistas é precisamente a formação desse partido e a luta pela conquista revolucionária do poder.
Trata-se de liberar as forças latentes que, sobre a base dos melhores recursos da técnica produtiva, devem contribuir para a formação de um novo sistema econômico, forças estas atualmente impedidas pela estrutura política do mundo capitalista.
Assim, a obra política que constitui a razão de ser do partido comunista tem duas características substanciais: a universalidade – já que compreende o maior número de proletários – atua em nome da classe e não em favor de interesses de grupo de trabalhadores de uma determinada profissão e de uma determinada localidade; e a finalidade máxima, já que não aponta para um resultado imediato e que não se pode conseguir gradualmente.
É certo que, mediante sua evolução, a sociedade burguesa oferece algumas soluções de problemas particulares, soluções que diferem da solução geral e final que o partido comunista persegue. O interesse dos proletários, entendido como o interesse limitado de grupos mais ou menos amplos, encontra no mundo burguês certas possibilidades de satisfação.
A conquista dessas satisfações não é interesse dos comunistas. Os organismos proletários, como os sindicatos, cooperativas, assumem estas tarefas espontaneamente. O partido comunista intervém nessas limitadas conquistas somente com o fim de chamar a atenção das massas sobre o problema mais grave e mais geral : o verdadeiro resultado dessas lutas não é o êxito imediato, mas sim a organização cada vez mais extensa dos trabalhadores, como diz o “Manifesto Comunista”.
Depois da conquista revolucionária do poder, se liberarão as forças econômico-produtivas latentes que pressionavam contra os elos da cadeia capitalista. Inclusive neste momento, a preocupação do partido não será tanto a consturção econômica que a maravilhosa germinação de novos organismos deve contribuir espontaneamente, (posto que no conflito entre produtores e formas de produção existia já essa energia cosntrutiva e inovadora que a revolução política trata de desenvolver), mas sim que continuará sendo tarefa do partido a luta política contra a burguesia derrotada, que tentará recuperar o poder, assim como a luta pela unificação dos proletários contra os interesses egoístas e corporativos. Essa segunda ação cobrará uma importância maior neste período.
Atualmente, a existência do inimigo comum burguês centralizado no Estado, do capitalista presente na empresa, constitui o elemento natural da fusão da solidariedade proletária que se alça contra a solidariedade organizada da patronal.
Amanhã, quando grupos operários de uma empresa, de uma localidade, de uma profissão se liberarem, com a força do poder proletário da ameaça do capitalismo explorador, e antes que a consciência política comunista tenha penetrado na universalidade dos trabalhadores, os interesses locais podem chegar a ter uma maior gravidade e importância. Provavelmente aí teremos que ver as medidas adotas pelo Estado russo dos soviets, que a imprensa burguesa anunciou como dissolução dos comitês de fábrica.
O problema mais difícil da tática comunista tem sido sempre se ater à finalidade e generalidade que acabamos de nos referir. O duro esforço para se ater à implacável dialética marxista do processo revolucionário tem cedido com frequência a desvios através dos quais a ação dos comunistas se perdia e desvinculava em pretendidas realizações concretas, na super valorização de atividades particulares ou de instituições singulares, as quais se apresentavam como pontes constantes de trânsito ao comunismo substituindo assim o temido salto no abismo da revolução, a catástrofe marxista a partir da qual deveria surgir a renovação da humanidade.Tal é o caráter do reformismo, do sindicalismo, do cooperativismo.
Nestes mesmos erros caem as tendências atuais de certos maximalistas, os quais, ante as dificuldades existentes para abater o poder burguês, buscam um campo de realização, de concretização e tecnificação de sua atividade. Tais são igualmente os erros dessas iniciativas que supervalorizam a criação antecipada de órgãos da economia do futuro como os comitês de fábrica.
O maximalismo vai conseguir sua primeira vitória com a conquista de todo o poder por parte do proletariado. Por enquanto, o que se há de conseguir é a organização cada vez mais ampla, consciente e homogênea da classe proletária no âmbito político.


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