terça-feira, 14 de março de 2017

O Estranho

Era o início da noite de um dia no meio da semana, mas o bar sempre tem seu movimento. O dono aluga o campo de futebol para os peladeiros do bairro. Há quem diga que Leo Moura e Souza Caveirão já exibiram seu talento por lá, numa pelada que acontecia todas as segundas-feiras à noite. Naquele dia, não. Menos glamour, mas três cidadãos conversavam num balcão: um sujeito grande, de boné, um velho, e um tímido especulavam sobre a existência de vida em outros planetas.
Para o do boné, a existência de vida em outros planetas era evidente. O universo sendo tão grande, não era possível que apenas o planeta Terra fosse contemplado por este privilégio. Já para o velho isso se tratava de crença; seria necessário prová-lo. O tímido resmungou qualquer coisa, mas a opinião dele não parecia ser assim tão importante.
Neste momento um sujeito estranho entra no bar. De chinelo, cabelo despenteado, barba por fazer... não deu boa tarde a ninguém! Mas o dono do bar parecia conhecê-lo:
- Coca Zero?
Neste momento o estranho pareceu ganhar humanidade e respondeu que sim com um sorriso, apesar de parecer alheio a tudo que há em volta. Intrigado, o do boné perguntou:
- E você? Você acha que existe vida em outros planetas? Assim, que nem a gente?
- Olha, assim que nem a gente, não sei. - respondeu o estranho, com seu segundo sorriso.
- Tá, mas qualquer coisa, alga-marinha, qualquer merda...
- Se tem aqui, por que não em outros lugares?
- Mas isso de dizer que acha é conversa... tem que provar! - retrucou o velho, cheio de razão.
- Mas e a existência de Deus, tá provada? - disse o estranho, que parecia se empolgar com o assunto.
- Obrigado! - concordou o do boné.
- Tá! - disse o dono do bar.
- Está provada! Ou quem criou a terra, o mar? - o velho parecia crescer.
- A ciência diz que foi o big bang. - disse o estranho, rindo de si mesmo.
- Ah, é! A explosão criou tudo isso. A bomba de Hiroshima criou alguma coisa?
- Vai saber...
Neste momento o do boné recuperava o protagonismo da conversa. Já o estranho, vacilante, olhou para a cerveja, fingiu acompanhar o desenvolvimento da prosa e se cansou. Apertou a mão do de boné, apertou a mão do dono do bar pela primeira vez e o velho nem olhou. Esqueceu-se também do tímido e voltou-se para si, com sua Coca Zero.
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