terça-feira, 7 de agosto de 2018

Vós, não as subestimem!

Os mais íntimos conhecem o temor que tenho por outros pais. Não me sinto muito confortável com mães também, mas nesse caso é bobagem. Nunca havia refletido sobre avós, e percebo o engano cometido ao subestimá-las. Explico: acredito que o meu jeito estranho de ser pai desperte um sádico desejo de se meter em minha vida. O que não se pode esperar é que a sabatina vá ocorrer logo pela manhã.
Aula de reforço. Átila, que estuda à tarde, tem um turno de reforço de português semanalmente. Mas hoje acordamos tarde, banho corrido, café da manhã corrido e simbora pra escola. Mas, ao que parece a professora também teve seus contratempos, me entregando à própria sorte com a vovozinha do coleguinha.
- O casaco dele abriu! - e foi logo consertar. Deu-se daquela maneira irritante, quando o zíper abre de baixo para cima. Não conseguindo, abriu mão, e eu mesmo o fiz, agradecendo mesmo assim.
- Ah, o papai resolveu! Você deveria ter colocado uma camisa por baixo do uniforme. A criança fica mais aquecida. - disse ela, muito segura de seu ofício de vó.
- O papai e a mamãe estão felizes com a escola? - perguntou-me. Eu como militante cascudo, sou sempre cuidadoso ao responder em nome de coletivos. Mas confirmei que sim. Átila, percebendo qualquer coisa fora do lugar, esclareceu:
- Meus pais são separados! - e, mesmo sem ter noção, foi como se meu filho tivesse aberto a velha "Porta dos Desesperados". Pude ouvir, ainda que distante, o grito de Sérgio Malandro: "Olha o monstro! Olha o monstro!"
- Ah, mas isso não tem importância! O importante é que você convive bem com os dois, né? - respondeu a vovozinha. Eu, ingenuamente, respirei aliviado. Ela continuou:
- Papai vai rezar e pedir ao Papai do Céu, quem sabe essa situação se reverte, né? - estava agora me olhando. Uma pegadinha dupla, ela é perspicaz. Sem ter o que responder, esbocei a famosa cara de cu. Certo amigo me garante que nestes momentos se fazer de idiota é a melhor solução, e tenho exercido isto há alguns anos.
- Na verdade, eu não tenho essa intenção... - respondi, decidindo optar pela menor polêmica.
- Ah, mas dessas coisas só Deus sabe. - a cara de cu se tornou mais explícita, com um sorriso mais enfático, ainda que só com os lábios.
- Você não é católico? Não acredita nessas coisas? - ela resolveu a segunda pegadinha. Pai ateu em escola católica. Mas permaneci altivo, com minha cara quase peidando. Mas ela estava na ofensiva:
- Um pai é muito importante na vida de um filho! - mais uma pergunta e eu estaria mandando a vovozinha às favas. Mas minha cara de cu agora ganhava ar de deboche, com um sorriso largo e impaciente. Ela conclui:
- Mas você já sabe, né? - O riso agora ganhava um tom de deboche, diante de minha primeira vitória.
- Vamos, Átila! Vamos, Fulano! - Palavra da Salvação! Chegou a professora atrasada, cortando o silêncio que pairava. Finalmente pude ter o meu descanso e escrever estas linhas, enquanto me preparo para encontrar a vovozinha na saída.
  

Um comentário:

  1. Pior que o taxista ao me ouvir dizer que queria ter filho mas sem marido rsss: "mas só pode ter filho se casar!" fiquei pensando em que mundo ele vive.

    ResponderExcluir