quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Movimento Estudantil: A construção de sua própria memória

Não foi a primeira vez que este tema surgiu como possibilidade de pauta no Blog. Parte fundamental de minha formação política, o Movimento Estudantil vem me colocar a árdua dificuldade de transformar o "familiar em exótico", a fim de que a abordagem deste artigo tenha um conteúdo salutar. A resistência parte da noção de que muitos esperariam de mim tocar neste tema, e se lido, o leitor o faria com alguma desconfiança de "perder o seu tempo" com as mesmas polêmicas travadas nos "informes" na sua sala de aula.
Pois a proposta é outra. Para além das divergências do cotidiano da faculdade, da disputa do centro acadêmico, o movimento estudantil tem uma trajetória de ação política determinante para a posição política que o Brasil se encontra hoje, e que, muitas vezes o "estudante crítico" vem se afastando cada vez mais dela, muito por conta também do debate ideológico travado na sociedade e bastante feroz sobretudo na juventude.
Sem querer brigar com outros segmentos do movimento social, o movimento estudantil tem o debate ideológico de programa para o país em alta conta, o que é inclusive o seu diferencial. O estudante universitário, indivíduo em condição privilegiada na sociedade brasileira apenas pela sua condição de universitário, tradicionalmente tem sua visão para os problemas do país, não exclusivamente da Universidade.
Isto tem a ver com a sua condição privilegiada de vivência na instituição proprietária do saber, a Universidade, que por assim ser é responsável pela formação dos grandes quadros dirigentes da sociedade civil e do Estado.
E qual é o paradigma do Movimento Estudantil no Brasil? Dito por tantos como tendo perdido sua capacidade de mobilização, vendido pela mídia como tendo perdido a sua combatividade, o que de fato acontece com o movimento, ou buscando a questão correta, o que acontece com os estudantes? Nas polêmicas supracitadas do movimento serão encontradas algumas respostas. O problema está na direção, na conjuntura política, nos métodos ultrapassados de abordagem, etc.
É preciso, no entanto, ponderar alguns elementos. Tendo lutado contra o fascismo, contra a ditadura, tendo sido fundamental na fundação da Petrobrás, tendo deposto o Presidente Collor, resistido bravamente ao neoliberalismo na era FHC e agora, sendo fundamental nas discussões do acesso à Universidade, na defesa do Pré-Sal para o povo brasileiro, o Movimento Estudantil tem dificuldade de construir entre os estudantes a identidade de segmento político, de ator político fundamental para o país por sua trajetória e por sua condição política anteriormente descrita.
Isto com certeza tem a ver com o que sofreu o movimento social em sua totalidade no Brasil com o auge do neoliberalismo com Fernando Henrique Cardoso. E a juventude, por suas qualidades ideológicas, é atacada diretamente nos seus valores, nossa geração cresceu vendo aumentar os valores individualistas e assim foi formada pelas "malhações da vida". O importante era se dar bem e "ser alguém na vida". As saídas coletivas estavam descartadas. Através disso vem o preconceito com a política.
E, assim, o movimento se depara com maiores dificuldades de construir a sua memória. Política passou a ser coisa de safado e política na universidade passou a ser "perda de tempo". Não mais o estudante se reconhece em Edson Luís, morto na ditadura, em Lindberg Farias, presidente da UNE no Fora Collor ou em Gustavo Petta, presidente da UNE na passeata que recuperou o terreno da UNE atacada pela ditadura. Este resgate faz-se fundamental. A construção da memória estudantil hoje ganha tons contra-hegemônicos, uma vez que a mídia a faz desestimulando-a ou apartando-a de seu presente.
UNE! UNE! (não consegui...)

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