sábado, 12 de março de 2011

Chico Mendes: A luta do herói.

Allan Kardec é estudante de História da UFRJ, pai da Sofia,  companheiro de luta e é o sucesso das rodinhas de violão por onde passa. Seu bom humor e simpatia fazem sua bela fama. Hoje escreve sobre Chico Mendes. O navio é seu, camarada!




      Em dezembro de 1988 ,eu tinha dez anos. E haviam heróis que circundavam minha mente; heróis do mundo fictício, indestrutíveis ,mas que para mim se aproximavam do “ mundo real”, onde tudo era muito bem definido: Os heróis ganhavam sempre, em todas as situações. Heróis não eram mortos , não eram manchete de televisão , a não ser por seus feitos extraordinários. Em dezembro deste ano , morreu um herói. E eu nem o conhecia. Estava no noticiário do mundo todo. E o mais estranho: Era brasileiro  e morava na floresta , longe do biotipo comum dos  que conhecia, geralmente altos e imponentes. O grande símbolo era seu próprio rosto.
       Naquela ocasião, a notícia da morte do herói que não conhecia me marcou profundamente: Era o assassinato de Chico Mendes.  Acredito que foi nessa ocasião que ouvi pela primeira vez  as palavras ,Acre, Xapuri, Seringueiros. E  também termos novos do qual possuia total desconhecimento como justiça social, exploração, luta ,desmatamento latifundiários, assassinato - causando ,pelo impacto do ocorrido ,uma maior compreensão  do que tivera até então sobre a realidade brasileira, ainda extremamante incipiente em mim. Foi meu  primeiro contato firme e forte sobre o que era um  movimento legitimo de luta social, liderado por um homem simples, do povo, que fora assassinado covardemente  dentro de sua própria casa, por acreditar e defender sua causa : a defesa dos seringueiros e a preservação da floresta. Foi meu primeiro sentimento de indignação perante  as injustiças sociais permanentes que ocorrem no Brasil.
      Essa luta  tinha rosto, presença e residência. Vinha de uma luta de mais de dez anos  em favor dos movimentos de resistência que surgiram  da população que vivia  da extração da borracha, que vivia da floresta para manter sua sobrevivência . E dessa mobilização  local  de extrema importância ocorria um debate por fora (que era ignorado tanto pelo Estado como pela classe média) e um movimento de organização popular que tomou corpo nos anos 70 ,nas cidades de Brasiléia e Xapuri, no Acre , na forma de um conselho nacional dos seringueiros, com a participação de Chico Mendes e outra liderança local, Wilson Pinheiro. Foram responsáveis pelo movimento contra as derrubadas e os  consideráveis desmatamentos ocorridos na região, que eram promovidos pelos grandes fazendeiros. Mas a luta também era contra o poder dos grandes seringalistas, contra a violência e contra o próprio Estado ,que na força de sua polícia defendia os interesses do poder local. Ambas essas lideranças foram covardemente assassinadas –Tanto Wilson como Chico -mas sua importância no que se refere a defesa da amazônia acabara por tornar seus nomes verbetes obrigatórios quando se quer levantar um debate sério sobre o assunto.
Chico Mendes reivindicou a desapropriação de áreas que estavam nas mãos dos latifundiários, que por meio das queimadas , sofriam constante ameça de serem destruídas pela fogo. E era dessas árvores –como a seringueira - que tiravam os povos da floresta o seu sustento. Lutou por diversas formas de melhoria social da população local, pela saúde básica ,por melhores condições  de produção e comercialização da produção dos seringueiros, e acreditou em um caminho de promoção da educação como forma de conscientizar e otimizar a relação homem-floresta ,provocando  assim a sensibilização e consciência de luta pela mesma. Uma luta Fundamental.
Já se foram mais de 22 anos da morte de Chico Mendes. Héróis como esse não morrem jamais.

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