terça-feira, 22 de março de 2011

Eleições da UFRJ : O legado de Aloísio Teixeira


Aloísio Teixeira,
Reitor da UFRJ
Estão inscritas quatro chapas para a eleição da reitoria da UFRJ. Pela situação o candidato é o professor da COPPE, Carlos Levi, que foi também Pró-Reitor de Planejamento na gestão de Aloísio Teixeira e é o homem responsável pelo Plani Diretor da UFRJ. Capitaneando a Oposição está o professor da Faculdade de Letras, Godofredo de Oliveira Neto, também com longa trajetória política na Universidade. Estas eleições acontecerão após 8 anos de gestão do professor Aloísio Teixeira, que após turbulentos debates e à revelia do conservadorismo da universidade conseguiu colocar a pauta da democratização do ensino superior na ordem do dia.




Por Allysson Lemos

Vem chegando ao fim uma trajetória vitoriosa. A gestão de Aloísio Teixeira sem dúvida é um marco na História da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Universidade que recentemente completou 90 anos, viu-se na última gestão como um modelo na discussão do que deve ser a democratização do Ensino Superior no Brasil, em contraposição ao seu passado de elitismo.
Aloísio Teixeira, antes mesmo de ser Reitor, já era um símbolo da luta anti-neoliberal na universidade. Tendo ganhado uma eleição nos tempos de Fernando Henrique Cardoso e não sendo empossado através do mecanismo vil da chamada Lista Tríplice, onde a União pode escolher o candidato que mais esteja atrelado a sua política, ao invés de dar posse ao candidato mais votado pela comunidade acadêmica. Assim, Aloísio só veio ser reitor em 2003, já em tempos de Governo Lula.
E foi neste período que a federal fluminense conseguiu respirar aliviada, passado o período dos sucessivos cortes de verba da educação. Com o cresimento do orçamento da universidade, não bastava mais repassar o dinheiro para as despesas de custeio e para a concentração em projetos de pesquisa mais badalados. Era preciso investir em assistência estudantil,ou seja, bandejão, transporte interno, alojamento, etc. Enquanto os estudantes se debruçavam sobre as polêmicas da Reforma Universitária, que até hoje não foi votada, a Reitoria lançava o histórico PDI em 2006, documento que iria dar as bases do que foi a discussão do REUNI. Ali se estabeleceriam os eixos da política educacional que era a utopia da gestão de Aloísio, o ensino interdisciplinar e a construção da cidade universitária, unificando os campi da UFRJ na Ilha do Fundão.
Neste mesmo ano, as diversas correntes do movimento estudantil fizeram um ato unificado dizendo a Reitoria que a prioridade era a reinstalação dos bandejões, afinal estes foram desativados no Governo Collor e desde então o segmento estudantil não tinha essa assistência. As obras foram iniciadas e a reitoria terminará sua gestão com o Bandejão Central em funcionamento há cerca de dois anos, além do Bandejão da Letras também em funcionamento e o Bandejão do CT/CCMN por concluir suas obras.
Reeleito em 2007, Aloísio possivelmente não imaginaria a grande polêmica que estava por vir. Neste mesmo ano, o Governo Federal lança o decreto do REUNI. Um plano de metas que visavam a reestruturação e expansão da Universidade. Em resumo, o plano previa ampliar o número de vagas para estudantes no Ensino Superior, além de trazer consigo um debate sobre os currículos. As próprias Universidades deveriam planejar como implementar o programa em seus campi.
Daí a Reitoria lançou o PRE, Plano de Reestruturação e Expansão da UFRJ, onde estavam previstas as contratações de 500 professores, a duplicação do número de alunos e a transferência de todos os cursos para o Fundão. Além disso os cursos seriam transformados em grandes bacharelados nas áreas humanas, tecnológica e biomédica, a fim de que o conhecimento produzido na Universidade ganhasse de fato ares universais, formando profissionais com maior conhecimento geral, para depois investirem em sua especialização.
Isto seria a gota d`água para os conservadores da Universidade. Acostumados com o caráter elitista histórico do Brasil, não poderiam ver a UFRJ abrir a porta para mais milhares de estudantes terem acesso à ela, isso comprometeria o seu "ensino de excelência". A idéia de interdisciplinariedade também entraria em choque com os poderes estabelecidos dos departamentos, dos "donos do saber". Sem falar na ida para o Fundão, local situado na Zona Norte, longe da elite carioca da Zona Sul.  
Este embate durou longos anos, mas a política inovadora foi vitoriosa, isso é inegável. Se o PDI não andou, como dizem por aí, é possível dizer que a UFRJ expandiu, criou novos pólos, triplicou seu orçamento, criou cursos novos com a estrutura acadêmica proposta, a fim de serem uma experiência que servirá de exemplo para a "Velha Universidade". Nas palavras do professor de Sociologia, Paulo Baía, "Aloísio está construindo a Universidade Nova por fora da velha".
Além disso, depois de quase vinte anos a UFRJ tornou a ter bandejões. O transporte interno funciona muito bem e agora conta com um terminal rodoviário. E para terminar a gestão com chave de ouro, a Reitoria atendeu às demandas dos movimentos sociais aprovando a reseva de vagas na UFRJ e pondo em cheque o regime excludente de acesso à Universidade, o Vestibular.
Desta forma, a eleição que está por vir não conta com um projeto alternativo ao da última reitoria. O debate progressista comandado por Aloísio hegemonizou as discussões educacionais na UFRJ. A oposição possivelmente se utilizará do debate corporativo a cerca da "Ida para o Fundão", como foi visto em entrevista do candidato Godofredo ao Jornal da UFRJ, mesmo sendo algo que cada vez mais perde sua força. No entanto, todas as entrevistas ressaltam a necessidade de mudar a estrutura departamental, inclusive a do candidato Alcino, que caracteriza a UFRJ como uma "Federação de Unidades".
Ou seja, se a gestão de Aloísio foi vitoriosa do ponto de vista das melhorias que trouxe à Universidade, mais importante ainda é o seu legado político, de pôr em cheque a estrutura excludente do Ensino Superior brasileiro.



Um comentário: