quinta-feira, 17 de março de 2011

Na Barrica de Rum: O Strogonoff de mentira

Estreamos hoje a coluna literária de Bruno Rabello. Cozinheiro, como o grande mestre Long John Silver, o astuto pirata italiano é conhecido por animar o espírito dos piratas já cansados da rotina do mar. Ao visitar a barrica de rum, Bruno sempre pára junto aos marujos e conta  histórias de bravura. Sua visão lúdica da vida faz do ato de navegar uma arte. "E`meglio vivere un giorno da leone che cento anni da pecora"







Por Bruno Rabello
Eu não sei vocês, mas eu sempre gostei de strogonoff. Alguns podem achar este um gosto esdrúxulo, trivial ou até mesmo descabido. Outros podem compactuar com minha preferência, não importa. Trata-se de um assunto de fina importância, um assunto que extravasa os limites do prato. Não o strogonoff, mas o causo que vou contar...
Este é um dos pratos mais populares do país, seja em refeições rápidas ou em celebração de casamentos, o Strogonoff tem seu lugar cativo na mesa do brasileiro. Mas vamos desvendar um pouco mais deste prato, afinal o senso comum gastronômico pode ser um risco a saúde. O Strogonoff é um prato russo, que nasceu de um costume antigo dos soldados do Czar de se alimentarem de carne picada, que eram acondicionadas em barris com sal e aguardente, método muito eficaz em tempos sem geladeira.  Um dia um homem sábio e muito importante, o cozinheiro francês (sempre eles) do Czar Pedro O Grande (respeite o cozinheiro, ele controla partes de seu corpo que você nem conhece), resolveu melhorar a iguaria e com um gesto carinhoso deu o nome do General “Strogonov” a sua obra de arte (é isso mesmo os soldados passaram a comer “O Strogonov” todos os dias).  No entanto tudo isso ocorreu no distante século XVII e não se sabe ao certo se a história é correta, mas está boa assim.
Com revolução de 1917 os comedores de “Strogonov” começaram fugir do grande exército Bolchevique (também comedores de strogonov), indo para vários lugares da Europa. A receita foi modificada ao longo do tempo e os franceses acrescentaram champignon, os estadunidenses (acharam que eu ia dizer “Norte Americanos” é?) como em tudo o que comem acrescentaram bacon e molho sour cream e os suecos, dizem, acrescentaram a lingüiça (a famosa lingüiça sueca Falukorv). Aqui em terras tupiniquins o strogonoff também tem suas variações, como ao invés de carne bovina o frango ou o camarão, mas existem outras variações, receitas secretas que só os cozinheiros da ilha do fundo do mundo conhecem.
Eu descobri uma dessas variações quando comecei a habitar essa ilha cheia mistérios. Nesta ilha, de alta temperatura, criam-se pavões aos montes e sua população  não é muito lá dada a eventos sociais. Ao sentar para comer, certo dia, cheio de fome como me é normal, pedi o prato em questão, afinal dada as CNTPs o feijão não seria uma boa opção e, ao esperar relativamente pouco, veio algo que eu não esperava. Um seria uma boa opção e, ao esperar relativamente pouco, veio algo que me surpreendeu. Espera-se ao pedir um prato que chegue ao seu paladar alguma coisa preparada com a receita em questão, mas parece que novamente a receita foi modificada e não foi por um amável cozinheiro francês. O acompanhamento principal estava sem sal e tenho a impressão de que foi preparado com água em excesso. O segundo acompanhamento estava muito tempo guardado em lugar aberto, ou seja, não estava crocante. A receita principal foi completamente alterada, parece que os cozinheiros da ilha não se deram conta, pois deram origem a um prato inteiramente novo (molho pronto ralo acrescido de farinha de maisena para engrossar, anilina para dar uma cor e ao invés de carne de segunda, carne de pescoço).
Comi, claro, não reclamei na hora, claro. Esta experiência me fez filosofar por alguns segundos sobre os procedimentos do cozinheiro que me servira o prato. Talvez ele nem se importe se não chamarmos o seu strogonoff de strogonoff, no entanto, a questão é que não era. Perdera completamente o aspecto vigoroso do prato russo e a cor vermelha que o caracteriza. Perdera também em substância, precisa ser “encorpado” artificialmente, talvez por causa do alto preço a se pagar pelos ingredientes originais. Alguns dizem que faltam grandes cozinheiros para fazer strogonoff na ilha, eu acredito que temos bons cozinheiros por aqui, só precisam se lembrar da receita direitinho.
Um bom jantar a todos.


3 comentários:

  1. huahuahuahauhauhauhauhauahua até que o Bruno está com cara de Long John Silver. Eu fiquei com vontade de saber quem acrescentou o creme de leite ao strogonof?Ou estava na receita original?

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  2. Outra coisa: nessa ilha não sabem fazer nem strogonof nem arroz a piamontese.

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  3. Cara, pelo visto nessa ilha não se faz nem carne moída, e vcs querem arroz a piamontese??? hahahahahah

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