domingo, 8 de maio de 2011

Brasil Desenvolvimento ou Ilusão

 
Nos últimos anos tem se falado muito que o Brasil tem se desenvolvido economicamente. Será essa uma verdade? Ou será isso uma ilusão. O famoso economista Josep Schumpeter distingui crescimento econômico, de desenvolvimento econômico. O primeiro se refere a uma expansão quantitativa da base produtiva, com pequena ou nenhuma mudança qualitativa, enquanto o segundo se refere a mudanças qualitativas substanciais no sistema produtivo, como a introdução de novas tecnologias, como o caso das tecnologias da informação na década de 90 ou as ferrovias em meados do século XIX, entre tantos outros casos de mudanças substanciais.

Por Thiago Machado
             A problemática levantada nesse artigo é a existência de certo consenso nacional sobre que o Brasil subiu de “patamar econômico”, ou seja, se desenvolveu durante a era Lula. Este consenso é valido, até mesmo para os meios de comunicação, a grande mídia, que pelo menos em teoria, deveriam fazer propaganda negativa sobre o governo. Vale lembrar, que é inegável que nos últimos anos algumas políticas econômicas e sociais foram extremamente favoráveis ao crescimento econômico, como a conexão institucional entre aumento de produtividade e aumento da massa salarial (conquistada pelos sindicatos), políticas sociais como a bolsa família, ampliando o mercado nacional e também temos a forte elevação do credito nacional para o investimento, com papel central do BNDES, entre outros.
            Contudo, apesar de algumas mudanças pontuais, a estrutura da política macroeconômica não foi alterada. A política monetária continua extremamente ortodoxa, com as maiores taxas de juros do mundo, enriquecendo os banqueiros através da dívida pública, onde só para se ter idéia, a receita dos bancos nacionais em 1995 (início da base de dados), era de 8,63% de títulos de renda fixa, ou seja, títulos do governo e em 2007 representava 34,43%. Enquanto o crédito e prestação de serviços representavam em 1995 respectivamente 6,79% e 31,19% de sua receita, e em 2007 era eles eram de 5,73% e 21,67%, uma queda relativa conjunta de 10,58%, contra um crescimento da receita vinda do governo em termos relativos 25,8%. Alem disso, o Brasil não teve reforma fiscal e os impostos se matem extremamente regressivos, penalizando a população mais pobre e desfavorecendo os investimentos. A política cambial continua ortodoxa assim como na era FHC, com o câmbio super valorizado (que é o que realmente tem segurado a inflação, só por consequência destruindo a capacidade industrial).
            Tais questões associadas com as mudanças mundiais têm afetado em muito a estrutura produtiva nacional, a formação bruta de capital fixo FBKF da indústria, chegou a aproximadamente 60% do total para o setor intensivo em recursos naturais enquanto em 2001 ele representava menos de 40% do total. Poderia se afirmar, no entanto, que essa mudança é apenas relativa, mas, por exemplo, os setores mais intensivos em tecnologia tiveram uma queda real de mais três vezes em seu investimento, comparando 2001 com 2007.
            Quando se observa as importações mais exportações da América Latina, de 1987 a 2008, observa-se que quanto maior o conteúdo tecnológico do produto (seguindo padrões da OCDE) maior foi sua taxa de crescimento e esse mesmo fato se repete ao longo da história do capitalismo mundial, como observa Grabriel Palma em “Gansos Voadores e Patos Vulneráveis” (2004). Em contrapartida, quando se observa as exportações brasileiras de 1996 a 2009, as exportações que mais cresceram foram justamente as de menor conteúdo tecnológico, crescendo uma vez e meia a mais que a taxa média de crescimento.
            O mesmo grande erro da política macroeconômica feita no governo FHC tem sido praticado pelo governo Lula/Dilma, só que em contextos históricos diferentes. A China tem mudado a economia mundial; como os termos de troca, que mudaram ao longo da ultima década a favor dons bens básicos em detrimento dos bens industrializados, forte expansão dos produtos básicos e tudo isso tem “favorecido” enormemente o Brasil pelo menos do ponto de vista do equilíbrio externo no curto e médio prazo. Tais condições associada com alguns pequenos sucessos, tem causado essa ilusão de desenvolvimento, enquanto na verdade o que temos é apenas crescimento, que mais cedo ou mais tarde irá mostrar suas limitações com desequilíbrios externos. Já que, cada vez mais se inventam novos produtos e tecnologias, pressionado a demanda nacional, só que, em contrapartida estaremos produzindo produtos que já possuem sua demanda razoavelmente bem atendida recriando nossas sistêmicas crises externas como a de 1998/99. 
           

3 comentários:

  1. Muito bom Thiago!! Excelente o texto!

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  2. Ontme tava conversando com o allysson sobre este negócio de desenvolvimento e crescimento. Fiz algumas ponderações, muito na linha do que aprendi pelo esctudo da economia política na faculdade e dos direitos de empresa, tributário e constitucional, óbviamente limitados. Então Thiago passei de novo aqui para pedir para que vc escreva um texto, não muito complicado sobre o que poderia ser um paradigma de desenvolvimento para o Brasil.

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  3. Oi Paulo, pode deixar que eu escrevo um texto sobre isso um dia desses! Abs!

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