segunda-feira, 20 de junho de 2011

Jornal O Globo, panfleto do governo norte-americano

                        

                                        Por Allysson Lemos

A História mostra que não é necessário ser de esquerda para ser nacionalista. Ao contrário, o Estado-Nação surge historicamente como o regime político moderno, como projeto político burguês. No entanto, é impressionante a tradição entreguista e vendida da direita brasileira. Entendendo a grande mídia brasileira como formadora de opinião das classes dominantes e, logo, da direita, o jornal O Globo tem apresentado sucessivamente opiniões anti-nacionalistas e pró-imperialistas.
Assim se sucedeu no caso da revolução no Egito, escondendo a antiga relação dos EUA e do Exército egípcio com o governo de Mubarak, assim foi na ocasião em que o Governo Dilma trocou a presidência da Vale para dar um rumo mais nacionalista às relações comerciais da empresa, fazendo um escancarado lobby pela permanência do antigo presidente. E na edição deste último domingo, o jornal publicou uma matéria vergonhosa sobre a possível formação de um partido cocalero no Peru.
A matéria, longe de explicar os processos políticos que têm ocorrido na América do Sul, de auto-afirmação dos povos, de afirmação de sua cultura e suas necessidades em contraste à velha dominação estadunidense no continente, a matéria prefere rotular tudo numa categoria pejorativa possivelmente invetada por eles próprios de "narcopolítica". Num exercício de reprodução de ignorância, o autor faz uma ligação do governo de Evo Morales com os cocaleros do Peru e setores da Colômbia que ele sequer cita no que chama de "Império Cocaleiro". Isto tudo inspirado na possibilidade de um partido cocalero peruano.
No topo da página há uma foto do presidente boliviano com uma folha de coca na mão, sugerindo sua ligação com o narcotráfico. Em seguida, há um gráfico com "os gastos dos EUA na guerra contra o tráfico na América Latina". Portanto, já sabemos que se os EUA resolverem fazer da América Latina o que fazem no Oriente Médio terão o apoio do jornal O Globo.
Para explicar minha indignação, farei uma breve análise do que significam estes processos na América. O governo de Evo Morales foi eleito democraticamente por representar diretamente o povo boliviano. O presidente é um homem de origem indígena, da tribo aiamará, que está estabelecida desde a era pré-colombiana no sul do Peru, na Bolívia, Chile e Argentina. Para se ter uma idéia, existem na Bolívia cerca de 1.200.000 falantes da língua aiamará.  Estas tribos andinas usam a coca para mascar. Como admite a matéria do Globo com desdém, isto é parte integrante de sua cultura antes mesmo da existência do Império Inca. A produção de coca é hoje uma das principais atividades econômicas da Bolívia e, os trabalhadores destas plantações são conhecidos como cocaleros, assim como o era o próprio presidente Evo Morales. Integrante do MAS, "Movimento ao Socialismo", uma das marcas do governo Morales foi a aprovação da nova constituição boliviana, que garante agora um "Estado Plurinacional", respeitando as fronteiras indígenas e marcada por aspectos culturais também indígenas, o que caracteriza o processo como distinto da democracia-liberal burguesa propagadeada pelos Estados Unidos da América.
Se parte da produção de coca é direcionada a produção de cocaína, isso sem dúvida não foi inventado pelos bolivianos ou pelos peruanos. A cocaína, uma droga industrial, depende necessariamente de grandes movimentações do capital não apenas para se produzida como para sua circulação. E, esse capital que deu novo sentido à produção de coca, é majoritariamente estadunidense.
Assim, é legítimo que os cocaleros peruanos organizem seu partido. Trabalhadores rurais, agora reclamam sua representação política. Apresentados como bandidos do tráfico pelo jornal, nada mais são do que trabalhadores assalariados que são explorados pelo capitalismo e que, em seu direito e inspirados nos bolivianos, avançam em sua capacidade de organização.
 O que o jornal faz, é esconder o conflito existente na América Latina dos interesses dos povos contra os interesses dos EUA. Acostumados a nos tratar como seu "quintal", os estadunidenses começam a ver os povos sul-americanos seguirem seus caminhos e por abaixo seus antigos privilégios no continente.

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