sábado, 17 de setembro de 2011

Em busca de uma Turquia asiática

Por Suellen Lannes

A Turquia sempre tentou angariar espaço no mundo asiático e no Oriente Médio, mas se deparava com alguns problemas. O primeiro era a atuação hegemônica que a União Soviética detinha e o cenário de bipolaridade que fazia com que a escolha por um dos lados fosse decisiva. As pretensões ocidentais turcas falaram mais alto e a entrada na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) consolidou a visão da Turquia como um obstáculo ao avanço soviético. Além disso, essa adesão expôs uma questão delicada, Israel.
             A disputa entre israelenses e palestinos sempre foi uma causa de tensão na região e uma definição de “amigos” e “inimigos”. Pela grande aproximação com a Europa e a participação na OTAN a Turquia apresentava uma postura de “boas relações” com Israel, tendo reconhecido o Estado, em 1949, e estabelecido acordos militares, em 1996. Essa relação fez com que os demais países árabes e/ou muçulmanos olhassem com certa desconfiança para a Turquia. Para contornar esse problema, o país do crescente sempre procurou atuar de forma neutra e estabelecer laços comerciais fortes com os países da região. O caso mais emblemático disso é a sua relação com o Irã.
            Desde a revolução iraniana em 1959, a Turquia vem mantendo fortes laços comerciais com o Irã, principalmente por causa do petróleo, cuja importância já foi reconhecida pelo aiatolá Khomeini. Ao mesmo tempo, durante as divergências com os Estados Unidos e na guerra entre Irã-Iraque, a Turquia apresentou uma postura de neutralidade procurando estabelecer posições de diálogos entre as partes envolvidas. Esse comportamento explica parte a atuação do país na elaboração de um acordo com o Brasil e o Irã sobre enriquecimento de urânio.
            Assim, “com um olho na missa e outro no padre” a Turquia estabeleceu um caminho geopolítico procurando se favorecer da sua posição geográfica simbolizada pelo estreito do Bósforo, importante via de navegação, e por ser a ponte entre Europa e Ásia. Através da sua “sorte” atuou estreitando os laços com as grandes potências hegemônicas e ao mesmo tempo, não se esquecendo dessa mesma localização procurou, por meio de sua virtù, atuar como mediadora dos conflitos que envolvem os seus vizinhos, se tornando uma importante parceira comercial e um ator político relevante. Mas desde o fim da Guerra Fria essa postura vem passando por sensíveis mudanças.

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