quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Se vocês querem meu corpo, nem se eu estiver morto, nem assim.*


Por Karine Belarmino


Raiva e angústia são sentimentos que se tornaram constantes pra mim de uns tempos pra cá. E, honestamente, queria que tivessem se tornado pra mais pessoas. Estou cansada de me sentir derrotada antes mesmo de tentar qualquer coisa, mas acredito que seria muita inocência achar que será diferente. Sou graduanda de Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio de Janeiro e tinha sim a esperança de fazer minha carreira na Academia. Tinha certeza de que, estudando numa universidade de renome como a UFRJ, conseguiria competir por postos em igualdades de condições com meus pares ao longo da minha vida acadêmica. Entretanto, desde que lá ingressei, vejo tudo, menos igualdade de condições. E não digo apenas a respeito da diferença na formação educacional entre os estudantes, mas também do nome que carregam e dos contatos que cada um tem.
                Apesar do discurso em defesa do universalismo de procedimentos presente na fala da maioria dos professores com quem já tive aula, assisto frequentemente ações e práticas desses mesmos professores que são nitidamente caracterizadas como patrimonialistas. No entanto, quando me queixo com colegas a respeito disso (e falo disso com qualquer um porque acredito que é o tipo de coisa que afeta todo mundo que ali está) me deparo com argumentos conformistas que, a meu ver, saem em defesa dessas práticas, no sentido de que “é, tem razão... é uma m*rda, mas fazer o quê? É assim, né?! O que a gente pode fazer é, quando estivermos lá, mudarmos as coisas.”* Como vamos mudar algo, se compactuamos em um primeiro momento? E a hipocrisia vira um círculo vicioso...
                 Me chocam as pessoas que, indignadas, se referem ao período em que a escolha dos professores das universidades públicas era dada por nomeações e que, entretanto, legitimam a roubalheira que ocorre nos concursos atuais com o argumento citado acima. O que de fato me deixa preocupada é a possibilidade desse argumento ser verdadeiro, ou seja, será que eu terei que me vender pra tentar mudar alguma coisa? Espero que não.
                Meu nome não está na boca deles. Meus pais para eles são desconhecidos. Não me interesso sexualmente por ninguém que possa me “ajudar” (a me tornar um deles). Não me interesso nem em virar amiga deles*. O meu futuro acadêmico, provavelmente, pertence à marginalização, já que não vejo sinais de descontentamento ou preocupação com tais práticas.
E o que eu faço com meu esforço, meu mérito? Estou procurando o que fazer. Posso tentar seguir minha peregrinação rumo ao reconhecimento acadêmico, apesar dos pesares. Posso usá-lo para satisfazer meu ego em momentos de baixa autoestima. Posso jogar tudo fora e tentar outra coisa, outro sonho (mas qual?). Contudo, o que eu queria mesmo era uma opção que me permitisse seguir em frente nas minhas aspirações sem que precisasse me misturar (porque, sabe como é, né?! “Quem anda com porco farelo come”.), sem me tornar um deles. No meio docente, há uma pessoa que me orgulha muito e me dá a esperança de que esse caminho existe e, por essa e por algumas outras razões (teimosia e romantismo, entre elas), vou seguindo.   
                Espero não estar dando tapa na cara de ninguém com este texto, mas se a carapuça servir, não há muito que eu possa fazer. Queria mesmo que as mobilizações dos estudantes incluíssem este tipo de reivindicação já que é prejudicial a todos. Digo todos porque mesmo aqueles que se beneficiam ou se beneficiarão deste “sistema” por terem qualquer uma das “qualificações” citadas ou não anteriormente, são prejudicados quando, por exemplo, um professor que deveria ser reprovado no concurso em que participou entra para dar aula em sua turma no lugar de um outro comprovadamente capaz*, afetando diretamente na qualidade de sua formação. “Mas e daí?! Pra que excelência na formação se esse “professor” tem contatos magníficos que vão facilitar sua vida??* Pra que ser moralmente correto se se pode pegar atalhos??” Posso, neste momento, parecer romântica e idealista, mas pouco me importa. Penso que ser moralmente correto é uma das prerrogativas que me permitirão uma velhice tranquila (se não chegar lá, uma vida em paz com minha consciência). Infelizmente, não posso esperar que todos pensem como eu, mas posso sim secretamente desejar.
                Deste modo vou, marujos, seguindo na prancha do navio, com a espada apontando minhas costas, em direção aos dentes do tubarão. Se é pra ser assim, que seja. Mas que antes eu maravilhe a alguns com o salto triplo-mortal-olímpico que hei dar antes de cair na garganta do monstro (me rendi ao clima do blog).


*Fui orientada pela direção do blog a não dar nomes aos burros para evitar constrangimentos (des)necessários.

Nenhum comentário:

Postar um comentário