domingo, 20 de novembro de 2011

A luta política e a disputa pelo conceito de democracia

Este ensaio é a tentativa de esclarecer alguns aspectos da dinâmica da luta política contemporânea, tendo em vista os recentes ataques ao PCdoB, que feitos de forma rasteira pela grande mídia, sugeriam uma desideologização da luta política e do histórico partido comunista e, ganharam até eco em setores da esquerda.
A esquerda no Brasil passou, em sua história, por breves períodos na legalidade, dado que há uma grande tradição de golpes, ditaduras, derrubadas de poder em nossa República. Isto fez com que o apelo à ilegalidade, a denúncia do governo e do capitalismo fosse sempre um aspecto destes setores ligados à classe trabalhadora. No entanto, após mais de 20 anos da redemocratização, com o fortalecimento das instituições da democaracia burguesa, a direita brasileira descobriu novas formas de produzir alienação. Disponibilizar ao povo à possibilidade de fazer política, (por mais que a demonização da mesma política tenha um aspecto de afastá-lo ideologicamente), funciona muito bem no sentido da cooptação ao sistema. O que antes era um ato de ilegalidade, de denúncia, agora são deveres cívicos. Manifestação agora é protesto. Cobrar dos governantes, votar, faz parte do que é ser um cidadão.
Assim, a esquerda é também chamada a mudar a sua tática. Para dialogar com o povo, com a classe trabalhadora, apenas fazer a denúncia do sistema capitalista tornou-se insuficiente. Disputar o conceito de democracia é fundamental. Se, para a direita democracia é a liberdade de mercado, o Estado mínimo que "corta gastos excessivos", o direito ao voto, o poder tripartite, cabe a esquerda dizer que isto é insuficiente. Cabe dizer que é necessário que o Estado garanta saúde e educação a todos, que a Universidade seja um instrumento de auto-conhecimento do povo e de realização de suas necessidades, é necessário dizer que o direito ao voto não garante o empoderamento do povo e da classe trabalhadora e que não existe liberdade de expressão enquanto esse mecanismo das concessões públicas só servirem para a perpetuação da grande mídia, hoje o partido mais eficiente da direita brasileira.
Não é à toa que hoje toda a esquerda, sem exceção, tem o centro de sua ação na legalidade. É bem verdade que alguns setores encaram esta disputa de frente, como é o caso do PCdoB, do PT, e de outros. Mas outros, apesar de se utilizarem deste aspecto como divisor de águas, como ponto de divergência, na verdade estão apenas se utilizando da legalidade para fazer a mesma denúncia de sempre. Vimos nas eleições do DCE da UFRJ por parte de legendas como o PSOL e o PSTU uma vexatória demonstração de falta de solidariedade. Se utilizando dos mesmos argumentos da grande mídia, inclusive fazendo campanha com a revista Veja na mão, estes setores se utilizavam dos ataques da direita pra justificar seu argumento de que haveria uma adaptação ao sistema por parte de setores da esquerda primeiramente descrito.
Este PSTU é o mesmo que em eleições lança candidatos em todas as esferas das eleições burguesas, que é registrado no TRE e que recebe verba do fundo partidário e, portanto, do Estado. Seu discurso político, ainda que tenha o centro na denúncia, está todo pautado nesta disputa. Este PSOL, ainda mais escancaradamente, está negociando uma aliança com o PV do Rio, que apoiou José Serra nas eleições presidenciais, para disputar a prefeitura ano que vem. Tem deputados e senadores.
Por fim, o chamado deste texto é que as polêmicas se realizem com mais franqueza. A disputa do conceito de democracia e a ação dentro da legalidade na atualidade é um imperativo para a esquerda, tendo em vista que a luta política é dinâmica e que a grande qualidade do marxismo é conseguir se debruçar sobre a realidade para formular a teoria e agir.






Um comentário:

  1. excelente... sucinto e faz um apelo bastante razaóvel! Precisamos de fato construir um novo conceito de democracia para contrapor a esta idéia liberal de poder tripartite. No entanto acho que este novo projeto de democracia não pode passar só pelo oferecimento de serviços mas por uma reorganização dos campos de significado com a ampliação da comunidade de interpretes dos significados dos conceitos sociais, com a ampliação comunicacional, e com o fim da linguagem fechada que separa estado e sociedade. Entre inúmeras outras coisas... acho q o pcdob e o pt tem que estar preparados para reincluir o "povo" no processo democrático garantindo o empoderamento das instituições que não se dá pelo mero fornecimento de serviços que, sem uma política do tipo mencionado, retroalimenta o mercado. Sei lá se fui claro. Mas vc tá corretissimo

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