Assisti ontem a
entrevista do Crivella para a Bandeirantes. Foi bem didático para
mim como muitos candidatos compõem suas plataformas eleitorais.
Parece-me que pesquisas de opinião servem à montagem de um
personagem, e consequentemente de um discurso.
Perguntado sobre qual
seria a sua primeira ação enquanto governador, se eleito, Crivella
respondeu na lata que seria resolver a lista de espera por cirurgias
no sistema público de saúde, que estaria em torno de 12 mil,
segundo ele. A segunda pergunta foi como ele resolveria esse
problema, ao que respondeu: "Vou pedir ajuda do Governo Federal,
vou fazer acordo com a iniciativa privada, não sei ainda como está
o orçamento do Estado, não sei o que vou fazer, mas boa vontade não
faltará, pode ter certeza!". Um bom cristão de boa vontade,
pensei!
Perguntado sobre os
professores, defendeu os "direitos democráticos " e a
liberdade de se manifestar, mas defendeu punições contra os
"terroristas", certamente no intuito de agradar setores
para os quais pode ampliar seu eleitorado mas ao mesmo tempo garantir
o seu voto conservador.
Perguntado sobre a UPP,
sua crítica não passa por uma análise social da relação
opressora que a polícia vem desenvolvendo com as comunidades, mas
como elas "estão localizadas somente na Zona Sul", um
certo senso comum que nem é real.
Perguntado sobre o
ensino religioso, as posturas da bancada evangélica, os direitos dos
homossexuais e se haveria um conflito da laicidade do Estado com a
sua postura enquanto homem religioso, respondeu que não. Ele sabe
"separar as suas convicções pessoais da sua postura enquanto
governante", e "religião não tem nada a ver com
política", o que particularmente me fez perguntar porque tantos
pastores andam se interessando pela política. Disse também ser
contra a intolerância religiosa e intolerância contra a opção sexual alheia,
ele pessoalmente acredita que o "homossexualismo" é um
pecado porque "ele acredita na Bíblia", mas "outros
podem acreditar que acreditar na Bíblia seja um pecado". Mais
uma vez uma estratégia de não perder o crédito com seu eleitorado
evangélico e ao mesmo tempo se livrar do estigma que carrega.
Em resumo: o que pensa
mesmo Marcelo Crivella? Difícil de saber. Opiniões construídas a
partir de pesquisa de opinião, deve ser muito republicano ele. E
assim vão se construindo as candidaturas, muito marketing, muito
"republicanismo" e pouca divergência, pouco projeto de
sociedade, de governo. Lamentável. Estou preferindo aqueles
claramente associados a um grupo, aqueles com opiniões mais
tangíveis. Aqueles que estão dispostos a fazer debates profundos sobre os problemas do Brasil.
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