terça-feira, 29 de julho de 2014

Sobre Crivella e o perfil dos candidatos nessas eleições


Assisti ontem a entrevista do Crivella para a Bandeirantes. Foi bem didático para mim como muitos candidatos compõem suas plataformas eleitorais. Parece-me que pesquisas de opinião servem à montagem de um personagem, e consequentemente de um discurso.
Perguntado sobre qual seria a sua primeira ação enquanto governador, se eleito, Crivella respondeu na lata que seria resolver a lista de espera por cirurgias no sistema público de saúde, que estaria em torno de 12 mil, segundo ele. A segunda pergunta foi como ele resolveria esse problema, ao que respondeu: "Vou pedir ajuda do Governo Federal, vou fazer acordo com a iniciativa privada, não sei ainda como está o orçamento do Estado, não sei o que vou fazer, mas boa vontade não faltará, pode ter certeza!". Um bom cristão de boa vontade, pensei!
Perguntado sobre os professores, defendeu os "direitos democráticos " e a liberdade de se manifestar, mas defendeu punições contra os "terroristas", certamente no intuito de agradar setores para os quais pode ampliar seu eleitorado mas ao mesmo tempo garantir o seu voto conservador.
Perguntado sobre a UPP, sua crítica não passa por uma análise social da relação opressora que a polícia vem desenvolvendo com as comunidades, mas como elas "estão localizadas somente na Zona Sul", um certo senso comum que nem é real.
Perguntado sobre o ensino religioso, as posturas da bancada evangélica, os direitos dos homossexuais e se haveria um conflito da laicidade do Estado com a sua postura enquanto homem religioso, respondeu que não. Ele sabe "separar as suas convicções pessoais da sua postura enquanto governante", e "religião não tem nada a ver com política", o que particularmente me fez perguntar porque tantos pastores andam se interessando pela política. Disse também ser contra a intolerância religiosa e intolerância contra a opção sexual alheia, ele pessoalmente acredita que o "homossexualismo" é um pecado porque "ele acredita na Bíblia", mas "outros podem acreditar que acreditar na Bíblia seja um pecado". Mais uma vez uma estratégia de não perder o crédito com seu eleitorado evangélico e ao mesmo tempo se livrar do estigma que carrega.
Em resumo: o que pensa mesmo Marcelo Crivella? Difícil de saber. Opiniões construídas a partir de pesquisa de opinião, deve ser muito republicano ele. E assim vão se construindo as candidaturas, muito marketing, muito "republicanismo" e pouca divergência, pouco projeto de sociedade, de governo. Lamentável. Estou preferindo aqueles claramente associados a um grupo, aqueles com opiniões mais tangíveis. Aqueles que estão dispostos a fazer debates profundos sobre os problemas do Brasil.

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