Um reencontro com Long Jhon

Estive em São Paulo novamente. Esta cidade guarda grandes mistérios se o viajante for curioso. A virada à direita na rodoviária Tietê é sempre muito esperada, mas a ficha só cai quando é preciso dar passagem na escada rolante, e o primeiro sorriso será dado ao ver algum jovem vaidoso com gel no cabelo, em pé no metrô.
Foram muitas as idas a encontros políticos em São Paulo, mas este olhar curioso de quem se depara com a grande metrópole brasileira só fui desenvolver há pouco mais de 3 anos, quando passei a fazer visitas mais constantes à cidade. O contraste da vida corrida com a poesia fez-se de imediato, quando à saída da estação São Joaquim eu era recebido a buzinadas e presenteado com uma flor. Neste período, ironicamente, certo poeta escrevia que não havia amor em SP.
Estive por lá neste último final de semana, à maneira antiga, para um encontro político. As buzinadas agora estão substituídas por uma certa distância, e a vontade de conhecer por algum desconhecer. Mas lá estava também o desenhista, que há três anos registrava com grande sensibilidade esta minha paixão repentina por São Paulo. Desta vez desenhou com palavras, artista que é, e ainda que sobre tema diferente - a política - comoveu aos que o ouviam e nos fez acender esperanças cotidianamente solapadas pelos inimigos da imaginação. Neste contexto de grandes expectativas, de renovação de energias, e, portanto, de rejuvenescimento, aceitei o ofício que não queria, como cansei de fazer em tempos remotos e quebrei a promessa feita a mim mesmo de que não repetiria este ato. Senti-me de volta aos tempos em que confraternizava com a velha raposa do mar, Long Jhon Silver, e me senti bem por isso. Seria bom revê-lo.
Mas revi São Paulo, e assim se avivaram boas memórias. Estas memórias se apresentam para mim como um contraste entre este passado mais distante e um mais recente. O desejo pela aventura se faz mais forte. E é precisamente este desejo que leva os homens ao mar.