terça-feira, 2 de maio de 2017

Uma História de Maracanã

Ano 2007. Flamengo na Zona do Rebaixamento. A diretoria do clube, naquelas ações desesperadas, ia reforçando o time já no meio do campeonato. O jogo de quarta-feira já havia marcado o retorno de Ibson, prata da casa, jogador de pele rubro-negra, e a estréia de Roger, ex-Fluminense, hoje em dia conhecido como Roger Flores. Naquele domingo, o Flamengo enfrentaria o Náutico, adversário direto na luta para escapar contra a degola. Desta vez estreava o zagueiro ex-corinthiano Fábio Luciano, conhecido pela sua valentia e espírito de liderança.
Eu ia ao Maraca com Renato e Renatinho, eles dois  já com ingresso, e eu não. Encontrei-os no Méier e fomos no Monza do pai do Renato, que já conduziu tantas outras histórias. O ingresso para este jogo estava a R$8,00, mas a demora para encontrar vaga para parar o carro nos deixou em cima da hora para o jogo.
A bilheteria era o caos. "Acabou o ingresso!", gritou um. "Tá vendendo!", gritou outro. E nós naquela indecisão, enquanto a polícia a cavalo descia o cacete nos torcedores, sem ninguém entender muito bem a razão. Saímos. O cambista vendia a R$40,00, preço que não poderia ser pago. Decidimos vender os dois ingressos que tínhamos. Pensamos melhor, voltamos à bilheteria. Jogo começa. Gol do Náutico! A revolta bate, o que mais poderia salvar o Flamengo do rebaixamento? O ingresso agora havia acabado de verdade. Em um ato desesperado, fomos falar com o cara da roleta. Renatinho era  dono da palavra:
- Acabou o ingresso, irmão. Nosso amigo aqui veio do interior do Estado para ver o jogo, será que não tem como resolver esse problema? - enrolou.
Depois de muito papo, ele respondeu, apontando para uns instrumentos jogados no chão:
- Olha só, o que eu posso te dizer é que a torcida entra por aquele portãozinho ali. Cata um instrumento e entra com eles.
E lá fui eu, sem conhecer ninguém, peguei o bumbo e entrei cantando com a Raça. Primeiro pé dentro do estádio e o grito de gol. "Fá-bio  Lu- ci - a - no"!!! O zagueiro estreante marcou de cabeça, mas eu não cheguei a tempo de ver. Flamengo 1 a 1 e eu não conseguia correr com o bumbo no ritmo do pessoal. Largo o bumbo no chão e vejo um bombadinho voltando, a passos largos, em sua busca. Pego o bumbo, dou na mão dele e vou para a arquibancada em fuga. 
Passamos todo o primeiro tempo em busca de um melhor lugar para assistir o jogo. O Maracanã estava lotado. No segundo tempo, já posicionados, vimos um Flamengo que sofria para armar uma jogada. Bateu aquela vontade de ir embora antes para escapar do trânsito, quando Roger pega uma bola livre no meio campo e faz um lançamento milimétrico para Leo Moura, dentro da área, que bate de peito de pé. A bola vai no ângulo! Pulos, palavrões, abraços. 
Flamengo virava o jogo que terminaria em 2 a 1. Virava também sua história no campeonato: depois desta partida ganhou todos os jogos no Maracanã e terminaria em terceiro lugar. Mas antes disso várias outras histórias aconteceriam!

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