Voltando da Trincheira

Uma noite de clima ameno na Rodoviária de Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Apesar do desconhecimento dos que ali estavam, um episódio de Trincheiras da Esbórnia havia sido gravado, o podcast mais suburbano que já houve. A van partiu por volta de meia noite, e o assunto era animado entre o motorista e o cobrador.

- Brasil não dá não. Salário mínimo mil reais, quando um carro é 120. Não tem lógica! Você vai ao banco e o cara não joga nada na tua mão, porque sabe que você pode morrer daqui a pouco! No Brasil só ganha dinheiro se for miliciano -disse o motorista.

- Esse negócio de ser 100% honesto não dá futuro não! Eu já pensei em investir em prostituição, mas diz que você fica só na carcaça- respondeu o cobrador, rindo.

- Quando eu era mais novo meu sonho era ser ator pornô, mas ai você vê que não é só aquilo que você faz!

A van passa por alguns cachorros na rua e o motorista comenta:

- Esses cachorros agora estão numa moda de meinha, já viu? Lá na rua também é assim, tem 3 cachorros, fica um querendo pegar o outro!

- Às vezes eu me pergunto se os errados são eles ou somos nós! - respondeu o cobrador

- Ahn, é mesmo! Se você ver antigamente era assim. Alexandre, o Grande! O cara mais brabo de todos, ganhava todas as guerras e tava lá! Já viu o filme? - agora se dirigindo a um estranho que só ria.

E continuou:

-Eu agora tô vendo uma série do Hitler. Se você ver o pior nem era ele, mas os capangas dele que vinham por baixo. Ele tentou várias vezes e não conseguiu, que nem o Lula, perdeu pro Collor, perdeu pra não sei quem...

- Mas ele era psicopata também - cortou o cobrador.

A essa hora o estranho tinha um companheiro de gargalhada, que acordou do sono com o falatório. De repente, volta-se ao assunto do Brasil.

-Esse país aqui não dá certo, não. Sabe que só veio maluco responsa pra cá, né? Assassino , estuprador... eles mandaram pra cá porque achavam que depois do mar caía no buraco e morria todo mundo!

- Tem gente que ainda acha! -  completou o estranho, descendo da van e deixando o assunto acalourado.