Faz uns dois meses que iniciei minha aventura no xadrez no Jacarepaguá Tênis Club. Tradicional ponto de encontro localizado na Praça Seca, nunca soube haver, até então, xadrez lá. Sobe-se uma escada escondida atrás do campo de futebol. Pode-se encontrar, depois de uma ante-sala, o salão principal, com várias mesas todas elas forradas com tabuleiros, onde se jogam as partidas dos torneios. Na ante-sala ficam os jogadores de "ping" - partidas com 5 minutos para cada jogador -, que vão se acumulando conforme acabam as partidas oficiais.
Comecei ontem o meu segundo torneio, o "Peão na Oitava". Pela segunda vez inicio o torneio jogando contra o César e, pela segunda vez perdi. Considero ter saído melhor da abertura, deixando o rei do adversário exposto, mas não soube aproveitar a vantagem. Dei uma olhada nas partidas que ainda ocorriam e depois fui à ante-sala, onde a magia acontece.
Os jogos se sucediam e também as vitórias de César que se gabava:
- Aqui é César, aqui tem xadrez! - sem se levar tanto a sério assim quanto parece - Tá vendo até agora que eu fiz essa merda consertei depois! - para a gargalhada geral.
Chegou a vez da revanche. Fui de pretas. César começa o jogo com o peão da dama, ao que eu respondo com d5, e então vem c4 entrando no temido gambito da dama - ou da rainha, como se popularizou.
- Cuidado com a eslava, César! - disse Marco, se referindo à minha defesa.
- Que eslava, nada! - respondeu.
Mas agora lanço minha carta na manga, fazendo f5 e entrando em outro jogo.
- Temos um muro de pedras. Ele vai com a stonewall pra cima de você, César! - continuou o provocativo Marco.
- Deixa ele com a stonewall dele! - respondeu confiante.
O jogo segue. Consigo fazer os planos típicos dessa defesa, posicionando bem o cavalo em e4. Trocam-se os cavalos e agora eu tenho a coluna c aberta para minha torre estrategicamente posicionada. Mas o adversário tem o espírito do ataque, avança suas peças, começa a me deixar sem espaço, mas comete um deslize: põe dama e torre na mesma diagonal, virando alvo do bispo de casas claras. Pronto, troquei o bispo mau pela torre, e em seguida, dama toma cavalo! Delírio geral:
- Ihhhhh!
- Ele vai te possuir, César!
Mas agora há a oferta de troca de damas. Pensei demais e não troquei. Ao invés disso fui atrás dos peões .
- Ué, não entendi! - disse Marco, que achava que eu deveria aproveitar a vantagem de uma torre para simplificar tudo, agora que eu tinha dama e torre contra a dama dele.
- Ele tá certo! - retrucou Perivaldo - Agora você não vai falar nada não, César?
- Não tô vendo nada aqui! - respondeu inabalável.
Mas com a coluna aberta eu começo o avanço do peão.
- E agora, César? Não tá vendo nada? Tá cego? - retrucou Perivaldo.
O peão chega na sétima fileira pronto para a coroação. César defende colocando a dama na diagonal da oitava casa. Levo a dama à oitava dando xeque, o rei sai e o peão vira dama!
Ihhhhhhhhh! - Era xadrez, mas pareceu um gol do Flamengo na Libertadores. Márcio vem fechar a porta da ante-sala e briga que estávamos atrapalhando as outras partidas. Agora eu tinha duas damas e uma torre.
- Agora é pra tirar um dez! - Disse o Marco. Fiz mais uns lances mas meu tempo acabou. Administrei mal o tempo pensando e creio que Marco estava certo, deveria ter trocado as damas. Minha estratégia acabou conduzindo a um jogo mais longo, e eu tinha menos tempo. Depois Cláudio me avisa que eu deixei passar um xeque-mate, mas com 3 segundos no relógio foi difícil encontrar.
Terceira derrota contra César, que permaneceu o rei da mesa. Mas uma vitória moral, ao menos! Joguei muito bem e conquistei o carinho da torcida. Semana que vem terá a segunda rodada do "Peão na Oitava", e depois o ping!
sexta-feira, 1 de outubro de 2021
E se o xadrez fosse truco?
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