sexta-feira, 1 de outubro de 2021

E se o xadrez fosse truco?

Faz uns dois meses que iniciei minha aventura no xadrez no Jacarepaguá Tênis Club. Tradicional ponto de encontro localizado na Praça Seca, nunca soube haver, até então, xadrez lá. Sobe-se uma escada escondida atrás do campo de futebol. Pode-se encontrar, depois de uma ante-sala, o salão principal, com várias mesas todas elas forradas com tabuleiros, onde se jogam as partidas dos torneios. Na ante-sala ficam os jogadores de "ping" - partidas com 5 minutos para cada jogador -, que vão se acumulando conforme acabam as partidas oficiais.

Comecei ontem o meu segundo torneio, o "Peão na Oitava". Pela segunda vez inicio o torneio jogando contra o César e, pela segunda vez perdi. Considero ter saído melhor da abertura, deixando o rei do adversário exposto, mas não soube aproveitar a vantagem. Dei uma olhada nas partidas que ainda ocorriam e depois fui à ante-sala, onde a magia acontece. 

Os jogos se sucediam e também as vitórias de César que se gabava: 

- Aqui é César, aqui tem xadrez! - sem se levar tanto a sério assim quanto parece - Tá vendo até agora que eu fiz essa merda consertei depois! - para a gargalhada geral.

Chegou a vez da revanche. Fui de pretas. César começa o jogo com o peão da dama, ao que eu respondo com d5, e então vem c4 entrando no temido gambito da dama - ou da rainha, como se popularizou. 

- Cuidado com a eslava, César! - disse Marco, se referindo à minha defesa.

- Que eslava, nada! - respondeu.

Mas agora lanço minha carta na manga, fazendo f5 e entrando em outro jogo.

- Temos um muro de pedras. Ele vai com a stonewall pra cima de você, César! - continuou o provocativo Marco.

- Deixa ele com a stonewall dele! - respondeu confiante.

O jogo segue. Consigo fazer os planos típicos dessa defesa, posicionando bem o cavalo em e4. Trocam-se os cavalos e agora eu tenho a coluna c aberta para minha torre estrategicamente posicionada. Mas o adversário tem o espírito do ataque, avança suas peças, começa a me deixar sem espaço, mas comete um deslize: põe dama e torre na mesma diagonal, virando alvo do bispo de casas claras. Pronto, troquei o bispo mau pela torre, e em seguida, dama toma cavalo! Delírio geral:

- Ihhhhh! 

- Ele vai te possuir, César! 

Mas agora há a oferta de troca de damas. Pensei demais e não troquei. Ao invés disso fui atrás dos peões .

- Ué, não entendi! - disse Marco, que achava que eu deveria aproveitar a vantagem de uma torre para simplificar tudo, agora que eu tinha dama e torre contra a dama dele.

- Ele tá certo! - retrucou Perivaldo - Agora você não vai falar nada não, César?

- Não tô vendo nada aqui! - respondeu inabalável.

Mas com a coluna aberta eu começo o avanço do peão.

- E agora, César? Não tá vendo nada? Tá cego? - retrucou Perivaldo.

O peão chega na sétima fileira pronto para a coroação. César defende colocando a dama na diagonal da oitava casa. Levo a dama à oitava dando xeque, o rei sai e o peão vira dama!

Ihhhhhhhhh! - Era xadrez, mas pareceu um gol do Flamengo na Libertadores. Márcio vem fechar a porta da ante-sala e briga que estávamos atrapalhando as outras partidas. Agora eu tinha duas damas e uma torre.

- Agora é pra tirar um dez! - Disse o Marco. Fiz mais uns lances mas meu tempo acabou. Administrei mal o tempo pensando e creio que Marco estava certo, deveria ter trocado as damas. Minha estratégia acabou conduzindo a um jogo mais longo, e eu tinha menos tempo. Depois Cláudio me avisa que eu deixei passar um xeque-mate, mas com 3 segundos no relógio foi difícil encontrar.

Terceira derrota contra César, que permaneceu o rei da mesa. Mas uma vitória moral, ao menos! Joguei muito bem e conquistei o carinho da torcida. Semana que vem terá a segunda rodada do "Peão na Oitava", e depois o ping!

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