sábado, 10 de setembro de 2011

Em busca de uma Turkey

Estreamos hoje a coluna semanal de Suellen Lannes. Primeira das novidades do Sinal Preto em sua volta. Suellen é autoridade tratando-se do Mar Mediterrâneo e as terras por ele banhadas. Hoje os conquistadores de Constantinopla estão na outra extremidade da luneta.

Por Suellen Lannes:

Localizada estrategicamente, entre o continente europeu e o asiático, a Turquia conquistou vantagens consideráveis por sua posição geográfica, assim como problemas. E desde a dissolução do Império Otomano, após a Primeira Grande Guerra, os governantes turcos vêm construindo a sua geopolítica tentando conciliar o seu projeto de se tornar europeu com o reconhecimento de ser um Estado asiático.
            A própria construção do Estado turco pós-Império demonstrou essa tendência. Podemos resumir essa construção em duas premissas básicas: (1) a construção de um ideal de nação centrado na etnia turca e no laicismo estatal, o que foi reproduzido pela (2) adoção de um projeto de Estado pautado pela “modernização”, o qual idealizado por Kemal Atatürk (1923-1938).  Essas ações tinham como objetivo acabar com a herança do Império Otomano, considerado o “homem doente da Europa”*. Para tanto, foram realizadas obras de infraestrutura por meio de construção de estradas e ferrovias, adoção do saneamento básico, assim como mudanças nas instituições turcas, fortemente influenciadas pelo modelo inglês parlamentarista. Tudo isso influenciado pela presença britânica em território turco, existente desde o Império.
            Essas mudanças internas moldarão o caminho geopolítico traçado pela Turquia ao longo do século XX. Seus governantes centralizarão a sua política externa numa constante aproximação com a Europa, procurando apresentar o país como moderno, pertencente ao velho continente e de importância crucial para a geopolítica europeia. Além disso, de forma mais discreta, a política externa turca atuava procurando angariando espaços na Ásia, se esbarrando com a hegemonia da União Soviética. Essa situação se acentuou ainda mais quando, em 1952, ela entrou na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e passou a representar um freio para a expansão soviética. Com essa decisão, a Turquia afirmou a sua posição de um país ocidental, o que é corroborado pelo seu pedido para se tornar membro associado da Comunidade Econômica Europeia (CEE), em 1959. Essa pretensão continuou ao longo dos anos, mesmo com a mudança da Comunidade para União Europeia e representou o primeiro passo adotado pela Turquia com o objetivo de deixar de ser uma simples aliada, para ser considerada de fato, “europeia”.
            Essa geopolítica foi fortemente apoiada e patrocinada pelos Estados Unidos, mas se deparou com insucessos e com mudanças no sistema interestatal capitalista. Assim, com o fim da União Soviética e a abertura de um vácuo de poder na região da Ásia e do Oriente Médio, as seguidas recusas da União Europeia em aceitá-la como membro efetivo e mudanças na política interna turca, os objetivos geopolíticos turcos passam por um processo de reformulação.



*Expressão do Czar Nicolau I da Rússia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário